“Falta de segurança é um conceito da imprensa”, diz Curado
Há exatamente um ano no cargo de Secretário de Segurança Pública, o policial federal Diógenes Curado ainda não conseguiu mostrar a que veio. As recentes críticas de pelo menos oito prefeitos e vereadores do interior, aliadas ao clamor da população de Cuiabá por mais segurança, mostram que a violência continua sendo um dos principais problemas de Mato Grosso. Diógenes, contudo, diz que a falta de empenho do governo para combater a violência “é um conceito da imprensa” e que a população está satisfeita com as ações da Secretaria de Segurança Pública. Em entrevista ao PnB online, ele demonstrou irritação ao abordar o assunto.
“Esse é um conceito seu e não da população. A população da periferia tem pedido mais viaturas e mais policiais, mas reconhece as ações das Bases Comunitárias”, disparou o secretário, que parece não ter conhecimento das constantes críticas de autoridades e populares à falta de Segurança em Cuiabá e no interior.
Em uma série de entrevistas ao PnB online durante o mês de fevereiro, prefeitos e vereadores de praticamente todos os partidos criticaram a Segurança Pública do governo Blairo Maggi. De acordo com eles, faltam viaturas, policiais civis e militares e cadeias públicas no interior.
Dentre as autoridades que criticaram a falta de segurança em Mato Grosso estão o prefeito reeleito de Primavera do Leste, Getúlio Viana (PR); o prefeito de Nova Bandeirante, Valdir Rio Branco (PMDB); os vereadores do município de Lucas do Rio Verde, Carlos Girotto (PPS) e Aluízio Bassani (PR); o vereador Raimundo Pinheiro (PT), de Campos de Júlio; o presidente da Câmara dos Vereadores de Tangará da Serra, José Pereira (PT); o prefeito de Campo Novo dos Parecis, Mauro Valter Berft (PMDB); e o prefeito de Santa Helena, Dorival Lorca (PP).
Ao ser questionado sobre as críticas dos prefeitos, Diógenes Curado desconversou. “Nós estamos trabalhando. Eu recebo prefeito todo dia aqui, tem dia que eu recebo cinco prefeitos com a comissão de vereadores e empresários. Todo mundo quer mais viaturas, mais policiais. Em casos pontuais, igual Dom Aquino, fizemos algumas ações que não surtiram tanto efeito. Então sentamos eu, o Comandante geral da Polícia Militar, o diretor geral da Polícia Civil e foram definidas algumas ações. E essas questões você tem que tratar pontual mesmo. O trabalho que eu acho mais importante que eu faço aqui na secretaria é sentar e ficar ouvindo a comunidade, o interior, os prefeitos, os vereadores. É saber como está a segurança pública no Estado, sempre vou anotando quais são os problemas e tentando resolver”, afirmou.
Ao justificar a falta de uma ação preventiva de segurança no Estado, o que tem provocado vários assaltos a bancos no interior, o secretário garantiu que não existe nenhuma cidade no Brasil que tenha uma força tática operacional para controlar os assaltos a banco. “Se você não tem como resolver a questão na forma preventiva, tem que ter uma polícia preparada para dar uma resolução ao problema. Praticamente toda a quadrilha que assaltou Comodoro foi presa”. Diógenes também citou as ações repressivas da Polícia Militar nos assaltos de Alto Taquari e Nova Mutum.
Violência na Capital
Hoje completam 12 dias que a menina Ana Carolina, de dois anos, morreu após ter sido atingida por um tiro no bairro Dom Aquino.
Esse é dos casos de violência mais recentes que chocaram a população de Cuiabá. Ela estava sentada no colo do tio, e ao lado da mãe em uma barraquinha de espetinho do bairro, quando seis homens armados, utilizando três motocicletas saíram pelas ruas, atirando contra todas as pessoas que encontravam pela frente. Cinco pessoas foram atingidas pelos tiros.
Concurso público para a Polícia Militar
O secretário Diógenes Curado disse que fez um estudo sobre a demanda de policiais militares em Mato Grosso e encaminhou para o governador Blairo Maggi. Porém, ele não soube informar a demanda e nem mesmo a data em que será realizado concurso público para aumentar o número de policiais nas ruas de Cuiabá e no interior.
Diógenes Curado ressaltou ainda que a secretaria está fazendo a locação de todas as viaturas da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, para desonerar a manutenção destas nas oficinas mecânicas. Segundo o secretário, a licitação, que deve possibilitar a locação de mais mil viaturas, deve ser publicada entre os dias 17 e 18 de março.
Porém, Curado não soube dizer quantas viaturas circulam hoje no estado e se essas viaturas que serão locadas suprem a demanda de todo o Estado. “Estamos em processo de transição. Vão ficar 1.500 viaturas no final, é uma conta por alto”, ressaltou.
Falta de segurança nos Parques de Cuiabá
Diógenes Curado reconheceu a deficiência do Estado para garantir a segurança nos parques da capital mato-grossense. Ele admitiu ainda que há freqüentes tentativas de estupros às mulheres que freqüentam o Parque Mãe Bonifácia.
“O Parque Mãe Bonifácia tem um policiamento que é feito de forma particular. Tem uma empresa que faz a vigilância ali. Mas eu tenho visto que não é só problema só desse parque, nós temos o Parque Massairo Okamura, se for feito o trabalho tem que ser mais amplo. E eu vejo realmente que há necessidade de se fazer uma ação ali. O estado tem consciência dessa problemática”, admitiu.
Diógenes disse que já conversou com o Comandante Geral da Polícia Militar, coronel Campos Filho, sobre a possibilidade de colocar policiamento com bicicletas nos parques da cidade, nos horários de maior movimento. Porém, não revelou prazo para colocar o projeto em prática e resolver o problema. “Isso depende de um maior efetivo da polícia”, afirmou.
Apesar disso, o secretário garantiu que no mês de abril chega nova turma de policiais para a Baixada Cuiabana.
Privilégio
O secretário Diógenes Curado rebateu as críticas publicadas na imprensa sobre o seu privilégio de andar rodeado de policiais militares, enquanto não há efetivo suficiente para fazer o policiamento adequado nos parques e outros logradouros públicos do estado. Segundo nota de jornal, Curado teria freqüentado festas de carnaval protegido pelo comboio.
“Quem me vê no dia-a-dia sabe como é a questão da segurança do secretário. Nesse fato não estava só eu, estava o comande geral da PM, o comandante regional de Cuiabá, o comandante geral de Várzea Grande. Não estavam fazendo a segurança do secretário, estavam fazendo a segurança do evento. Estavam fazendo vistorias em todos os eventos do Carnaval. Não era só aqui em Cuiabá. Então não era a minha segurança pessoal”, afirmou.
Em uma autocrítica de sua gestão, o secretário de segurança admitiu a morosidade para resolver algumas questões.
“Um ano é muito pouco para se trabalhar um projeto e mudar um panorama de segurança pública. Mas nós melhoramos muito a qualidade do nosso sistema prisional e aumentamos 1.700 vagas para o sistema. Mas é muito pouco ainda. Nós não conseguimos avançar muito, demoramos para criar a delegacia de entorpecentes. Foram quase nove meses. Essa é uma crítica que faço pra mim. Precisamos agilizar essas questões administrativas”, ressaltou.
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