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Agronegócios
Sexta - 13 de Fevereiro de 2009 às 15:48

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O cultivo adensado do algodoeiro visa produzir um algodão de ciclo precoce com menos de 150 dias, diminuindo também o custo e melhorando a rentabilidade da cultura. Só que esse empreendimento em Mato Grosso, de acordo com o engenheiro agrônomo Jean Louis Bélot, do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAMT), ainda está sujeito a riscos em função do desconhecimento do manejo ideal e da qualidade de fibra produzida.

Esses fatores, na visão do engenheiro, levam obrigatoriamente ao acompanhamento monitorado dessas áreas pioneiras. “Temos que alertar os produtores sobre alguns pontos-chaves para o sucesso do cultivo adensado do algodoeiro nessa fase introdutória”, diz Jean Bélot.

No Cerrado Brasileiro, tradicionalmente, o algodão convencional é semeado com espaçamento entre linhas de 70 a 90 cm, visando densidades de plantas entre 90 a 120.000 plantas por hectare. No caso do algodão de “safra”, seja o algodão plantado no mês de dezembro, o ciclo atinge entre 180 e até 220 dias. Para esse sistema convencional, as variedades de crescimento indeterminado mostram-se as mais adaptadas, com emissão de até 30 nós por haste. Esse algodão, como resultado de um ciclo longo, tem potencial para gerar altas produtividades, mas acarreta elevados custos de produção, tanto em adubação como para a proteção fitossanitária. Com isso, o sistema não tem se mostrado sempre rentável, principalmente em período cujos preços dos insumos agrícolas encontram-se altos ou de queda de preços da fibra.

A ideia de adensar um cultivo para buscar maior precocidade não é nova. No caso do algodão adensado (“ultra narrow row cotton”, “UNRC” e “algodón de surcos estrechos”) muitas tentativas foram feitas nos últimos 30 anos, principalmente nos Estados Unidos. Naquele país, como na Austrália, o adensamento nunca teve área muito expressiva. Por outro lado, o algodão adensado é atualmente o responsável pela retomada do crescimento da cultura na Argentina. Jean Bélot frisa que é importante lembrar que as condições de cultivo nesses países são profundamente diferentes das encontradas no Brasil. “Em nosso país, os testes realizados em diversos Estados nos últimos cinco anos não mostram resultados muito conclusivos. Contudo o sistema adensado traz expectativas promissoras para o produtor, para o Estado e para o país”, afirma Bélot.

O engenheiro agrônomo Samuel Ferrari, do (IMAMT), sublinha que a intenção inicial de plantio do algodoeiro em sistema adensado em Mato Grosso é de um algodão semeado tardiamente, entre final de janeiro ou fevereiro, eventualmente após uma soja precoce, com espaçamento de 45 cm entre linhas, visando utilizar as semeadoras de soja disponíveis.

Ele explica que a densidade de plantas está entre 180.000 a 250.000 plantas por hectare e a precocidade é alcançada pelo fato de cada planta ter que produzir somente de cinco a sete cápsulas, com reduzida estrutura de plantas, no máximo 70 a 80 cm de altura no momento da colheita. “Com essa precocidade e baixo porte das plantas, pode-se proporcionar uma diminuição dos custos de fertilização e de proteção fitossanitária”, destaca Samuel, dizendo que a proposta inicial é que esse algodão seja colhido com colhedoras de tipo “stripper” de valor de aquisição e funcionamento significativamente inferior às máquinas “picker” de fuso, atualmente usadas no Estado.

“Apesar do conceito ter ficado claro, muitas pesquisas e ajustes têm que ser feitos para que se possa recomendar aos produtores mato-grossenses um sistema adensado sustentável. Porém, muitos deles querem experimentar o algodão adensado em 2009, com áreas que podem chegar a mais de seis mil hectares”, assegura Samuel, lembrando que uma ampla rede de pesquisa sobre o algodão adensado foi montada para a safra 2008/09, coordenada pelo IMAmt, com participação de muitas entidades de pesquisa do Estado e apoio dos produtores, empresas e consultores. Os mais variados temas serão tratados, desde a escolha da variedade, densidade de plantas, época de semeadura e manejo fitossanitário até os sistemas de colheita e beneficiamento.

Para o professor Paulo de Grande, da Universidade da Grande Dourados (UFGD), o cultivo adensado do algodão é um sistema totalmente diferente daquele cultivo algodoeiro atualmente praticado no Cerrado Brasileiro. Na visão dele, é provável que o sistema de produção adensado, caso tenha êxito no Mato Grosso, seja um sistema mais sensível em relação á variabilidade climática, ou pelo menos que exige maior nível técnico dos responsáveis pelos campos de produção, para poder chegar à máxima precocidade do cultivo.

Paulo Degrande garante que os sistemas de cultivo praticados pelo cotonicultor para ficarem sustentáveis terão que ser drasticamente modificados, introduzindo a rotação e a diversificação dos cultivos. Ele assegura que um estudo econômico global do sistema adensado é indispensável e fará o balanço entre as reduções de custos em campo e na colheita, e os aumentos de custos de beneficiamento e perdas de receitas na comercialização. “Só este tipo de estudo permitirá prever com clareza o futuro do sistema de algodão adensado no Mato Grosso com base em ciência e tecnologia”, finaliza Degrande.





Fonte: 24 Horas News

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