Câncer testicular dobra as chances de um novo tumor
Homens que tiveram câncer de testículo apresentam duas vezes mais riscos de desenvolver outros tipos de tumor durante a vida em comparação àqueles que nunca tiveram a doença, aponta um estudo publicado no "Journal of the National Cancer Institute", que acompanhou 40.576 pacientes.
O câncer de testículo é o tumor que mais afeta homens jovens --dos 15 aos 40 anos. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), ele corresponde a 5% dos casos de tumores malignos entre os homens, afetando entre três e cinco indivíduos a cada 100 mil. Os índices de cura chegam a 100% quando diagnosticado precocemente.
Alguns estudos recentes têm relatado aumento na incidência desse tipo de câncer. No ano passado, uma revisão do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos mostrou que em 20 anos a prevalência passou de 3,7 casos por 100 mil homens para 5,4 por 100 mil.
Várias hipóteses controversas tentam explicar esse aumento, entre elas, o maior uso de agrotóxicos e de outros poluentes ambientais, mas nenhuma conseguiu demonstrar de forma clara essa relação.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo --dos EUA, Canadá e alguns países escandinavos-- avaliaram registros de câncer desde 1943. Depois de identificarem sobreviventes de câncer de testículo, eles analisaram o tipo de tumor e de tratamento a que os pacientes foram submetidos.
E concluíram que o risco para um novo tumor foi duas vezes maior quando comparado aos homens que nunca tiveram câncer testicular. O novo tumor apareceu, em média, após dez anos do tratamento.
Homens cujo câncer testicular foi diagnosticado por volta dos 20 anos foram mais propensos a ter um novo tumor, comparados com os tiveram a doença em uma idade mais tardia. Os novos tipos de câncer mais comuns foram de estômago, de pâncreas, de bexiga, do pulmão e do retroperitônio.
Radioterapia
Embora esse estudo não tenha detectado diferenças estatísticas de prevalência de um novo tumor associada ao tratamento recebido (radioterapia, quimioterapia ou ambos), outros trabalhos vêm mostrando essa associação, especialmente em relação à radioterapia.
Segundo o urologista Stênio de Cássio Zequi, titular do departamento de cirurgia pélvica do Hospital A. C. Camargo, a principal hipótese é que a radiação não só destrua as células tumorais como também provoque danos no DNA de células saudáveis vizinhas, o que poderia levar, no futuro, ao surgimento de um novo câncer.
Recentemente, de acordo com Zequi, alguns trabalhos também vêm demonstrando que o excesso de tomografias feitas durante o tratamento --para o controle da doença-- também pode ser um fator de risco para o surgimento de novos tumores. Um deles, feito nos EUA, concluiu que homens que haviam realizado em média 16 tomografias em cinco anos tiveram 15 vezes mais chances de desenvolver novos tumores em relação àqueles que só fizeram uma tomografia por ano.
"A questão não é mais a cura do câncer de testículo porque desde a década de 70 ele é altamente curável. O grande desafio é causar menos danos aos pacientes durante o tratamento. E sobre isso ainda há muitas controvérsias", diz Zequi.
Outra hipótese busca explicações na genética. "Pode haver uma certa predisposição do indivíduo que teve câncer tão jovem de ter outros tumores no futuro em comparação com a população em geral. Também pode haver uma combinação dos dois fatores, mas isso não se sabe ao certo", diz o médico oncologista Fernando Cotait Maluf, do Hospital Sírio-Libanês.
Para Lois Travis, do Instituto Nacional de Câncer (EUA), sobreviventes do câncer testicular e seus médicos devem estar vigilantes a qualquer novo sintoma de um novo tumor. "É importante que esses homens tenham hábitos saudáveis, como praticar exercícios, ter uma alimentação balanceada e evitar o tabagismo, que pode elevar os riscos de câncer."
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