Combatendo o ‘rouba mas faz’
Semana passada abordei a Campanha da Fraternidade deste ano, na qual a CNBB irá atacar a falta de ética na política, num outro esforço para pressionar o Congresso Nacional a aprovar lei que impeça políticos com condenação na segunda instância de disputarem eleições.
Revelei que reportagem da Folha de S. Paulo, a partir de dados da Controladoria Geral da União e TSE, mostrou que em 2008 o índice de reeleição de prefeitos auditados pelo órgão (62,5%) foi muito próximo da taxa de reeleição em geral (67%), o que nos remete à triste constatação de que a corrupção não é levada em conta pelos eleitores, desde que os gestores sejam realizadores. Ou seja, que ainda prevalece no Brasil a lógica do ‘rouba mas faz”.
Não relatei, entretanto, de uma exceção revelada pela reportagem: a de que a taxa de reeleição caiu 11 pontos percentuais no universo de cidades auditadas nas quais havia rádios locais, e o assunto foi tratado publicamente. Conclusão: a comunicação fez a diferença no combate à corrupção, ao mostrar que o “rouba mas faz” pode ser substituído pelo “não rouba e faz muito mais”.Porque a primeiro reflexo da corrupção é exatamente o de reduzir o alcance do investimento público.
Comunicação em eleição é aspecto fundamental. Nas administrações, mais fundamental ainda. Costumo dizer que uma administração não será boa ou ruim por suas realizações, mas, contudo e todavia, sua avaliação dependerá exclusivamente dos valores que conseguir despertar e/ou incutir na sociedade. E a percepção da sociedade será favorável ou desfavorável ao governante em razão da qualidade da comunicação que conseguir estabelecer com o público, não apenas de realizações.
O dado sobre a queda da taxa da reeleição de prefeitos acusados de corrupção nas cidades em que há rádios locais corrobora o raciocínio. Entretanto, o poder da imprensa é tão forte que, em alguns casos, mesmo gestores que não são corruptos acabam na alça de mira da imprensa, e os efeitos são igualmente danosos.
A primeira recomendação que se faz ao administrador bem intencionado é que trate a imprensa como aliada. Se sua causa é republicana, não haveria razão para temer a imprensa, que em geral abraça causas politicamente corretas. Ainda que determinadores setores da mídia estejam engajados política ou partidariamente com a oposição.
E a segunda recomendação que se fez é que trate a comunicação de seu governo/administração como prioridade política e com profissionalismo, porque, depois que uma percepção negativa é sedimentada pela sociedade, as possibilidades de reversão de sua imagem ficam mais remotas e muito mais caras.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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