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Nacional
Quarta - 07 de Janeiro de 2009 às 15:50

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Desde o final do ano passado, as chuvas castigam diversos Estados do Brasil, causando mortes e obrigando milhares de pessoas a deixar suas casas. Embora a Sedec (Secretaria Nacional de Defesa Civil), do Ministério da Integração Nacional, não tenha um registro exato do número de mortes provocadas pelas chuvas no país, levantamento feito pela Folha Online junto às Defesas Civis estaduais aponta que ao menos 158 pessoas morreram desde setembro de 2008.

Do total de mortes, 135 ocorreram em Santa Catarina --onde a Defesa Civil ainda procura por seis desaparecidos--, e 23 em Minas. Porém, o número pode ser maior, já que é possível que as Defesas Civis dos municípios não tenham comunicado aos órgãos estaduais a ocorrência de novos casos.

"Nessa situação, os órgãos se preocupam em atender as pessoas e não em contabilizar e divulgar a informação, até porque grande parte dos municípios não têm uma estrutura organizada para lidar com esse tipo de tragédia", afirma Sérgio José Bezerra, coordenador geral do departamento de Minimização de Desastres da Sedec.

Até 31 de dezembro, dos 5.563 municípios brasileiros, aproximadamente 1.360 não contavam com uma Defesa Civil municipal. Com a troca dos prefeitos no dia 1º de janeiro, a Sedec estima que o número de cidades que não contam com o órgão deva aumentar bastante, já que, tradicionalmente, a maior parte dos municípios altera a coordenação das Defesas Civis, e muitas são extintas até que novas equipes sejam treinadas para assumir o órgão.

De acordo com Bezerra, dados do Sedec revelam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas afetadas pelas chuvas e enchentes no Hemisfério Sul, não só em 2008, mas anualmente. No ano passado, por exemplo, as chuvas afetaram 1,5 milhão de pessoas em Santa Catarina e 1,5 milhão de pessoas no Nordeste.

Apesar de ser o maior afetado, o país ainda enfrenta grandes dificuldades em lidar com catástrofes naturais. "A tragédia de Santa Catarina revelou como o Brasil não está preparado para lidar com catástrofes. A ação preventiva não é levada a sério no Brasil, apesar de todos os esforços", avalia Bezerra, que defende a inclusão de capacitações sobre o tema nas escolas.

Segundo o coordenador, um dos principais motivos é a falta de "percepção de riscos" dos brasileiros. "Porque não fomos educados para reconhecer os riscos. Muitos não têm nem noção da gravidade, e se arriscam a morar em morros e em áreas que já estão condenadas a cair desde o início", diz.

Tanto em Santa Catarina, quanto em Minas, as Defesas Civis estaduais estimam que a maioria das pessoas morreu soterradas em suas casas. Para Bezerra, a ocupação de áreas de risco no Brasil é um problema "crônico", e não afeta somente a população de baixa renda, mas também a classe média e alta.

"É muito difícil retirar essas pessoas de suas casas, tanto porque muitas têm medo de não ter pra onde ir, mas a maioria se apega psicologicamente ao local e se recusa a sair, ou volta mesmo depois de retirada a força e morre", afirma.

Foi o caso de umafamília de Ilhota --município que contabilizou o maior número de mortes no desastre das chuvas em Santa Catarina--, onde quarto pessoas que já haviam sido retiradas da casa onde moravam retornaram ao local e morreram em um novo deslizamento, em novembro de 2008.

"[A ocupação de áreas de risco] Isso foi um processo de omissão do Estado, das instituições que tinham por responsabilidade reprimir essa ocupação, em alguns casos, foi incentivada a ocupação de áreas que se tornaram de riscos depois. Inúmeros desastres poderiam ter sido evitados se tivéssemos educados essas pessoas para não ocupar essas áreas de riscos", afirma.

Dificuldades

Outro fator que prejudica a população é a rixa política que existe entre algumas prefeituras e os Estados.

"Na prática, o município decretava situação de emergência e, por motivos políticos, o Estado engavetava a documentação. Por isso, recentemente, baixamos um decreto para que, em situações extremas, o prefeito comunique direto ao Sedec", afirmou.

Mudanças climáticas

Enquanto alguns Estados são afetados pelas chuvas, outros sofrem com a seca, como é o caso do Rio Grande do Sul, onde 46 cidades estão em situação de emergência devido à falta de água --segundo informações divulgadas na última terça-feira (6). Segundo a Defesa Civil do Estado, não chove no noroeste e na região do Planalto há cerca de três meses e 85 mil pessoas já foram afetadas.

De acordo com Bezerra, o fenômeno da estiagem no Estado se intensificou a partir de 2004, e pode ser justificada pelas mudanças climáticas registradas no planeta. Para sustentar seu argumento, o coordenador do departamento de Minimização de Desastres da Sedec chama a atenção para o número de fenômenos naturais ocorridos no período.

Como a seca no Amazonas, em 2005; a estiagem na região semiárida do Brasil (que engloba cerca de 1.200 municípios); o ciclone que atingiu o Sul do Brasil em 2004; os tremores de terra sentidos em quatro Estados no ano passado; e as chuvas do final de 2008 e início de 2009.

Em 2008, a Sedec registrou 1.502 decretos de situação de emergência ou calamidade pública em todos os Estados brasileiros --algumas cidades decretaram situação de emergência mais de uma vez. Em 2007, foram 1.614. Nos dois anos, a maioria dos decretos foi em decorrência ou das chuvas ou da estiagem.

Para o coordenador, o Brasil deve se preparar para contabilizar um número maior de mortes em decorrência das chuvas. "Com certeza [o número de mortes deve crescer]. Se a ameaça das chuvas se intensificar em uma área que já está vulnerável, podemos esperar por mais mortes. Porque, o que eu vejo e vi na pratica, é que muitas pessoas não querem deixar suas casas e morrem por causa disso. É um processo crônico, de difícil solução, que deve continuar."





Fonte: Folha Online

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