Abaladas pela crise, usinas de álcool enfrentam inadimplência
A crise sucroalcooleira preocupa o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João de Almeida Sampaio. Ele se reuniu com representantes do setor para discutir a situação. "O desafio é garantir que as usinas cheguem à próxima safra em condições de moer", disse ao Estado. As usinas precisam de dinheiro para bancar as despesas da entressafra, que incluem a manutenção das máquinas, a renovação dos canaviais e o preparo das usinas para a nova safra.
Os chamados ACCs (Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio) oferecidos por tradings ou bancos tornaram-se escassos e com juros altos. "O setor foi pego numa situação de baixo preço do açúcar no mercado internacional, baixa demanda para exportação de etanol e um nível de investimento altíssimo, feito com recurso de curto prazo", disse o secretário. Com a escassez de crédito, a usina ficou sem caixa para tocar os negócios.
Em quase todas as regiões do Estado houve atraso no pagamento de fornecedores. Apesar de quatro grupos usineiros já terem requerido a recuperação judicial, o secretário não acredita em quebradeira generalizada. "Algumas usinas vão sucumbir até o início da próxima safra, mas os fundamentos são positivos e levam a crer numa melhora para o setor." A primeira a pedir recuperação judicial foi a Companhia Albertina, de Sertãozinho. Também entraram com pedidos os grupos João Lyra, Naoum e Othon, que atuam em Estados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
De acordo com o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), Antonio de Pádua Rodrigues, as empresas passaram a depender do mercado para se recuperarem. "A esperança é de que os preços melhorem." Mesmo que o preço do barril de petróleo se mantenha no nível atual, abaixo dos R$ 50, ele acredita que o etanol continuará uma alternativa de energia limpa e renovável.
O secretário João Sampaio considera "assustador" imaginar que o preço do óleo possa vir abaixo dos R$ 40. "Em compensação, o preço do açúcar, que estava no fundo do poço, melhorou com o câmbio."
Sindicatos de trabalhadores rurais das regiões produtoras temem o desemprego. Segundo o presidente do Sindicato de Dois Córregos, Paulo Palombo, as usinas estão suspendendo a contratação de mão-de-obra efetiva. Só uma usina de Barra Bonita cancelou 300 contratos.Outra, de Brotas, atrasou pagamentos no encerramento da safra. "A gente não sabe o que vai acontecer em 2009."
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PSDB-SP), da Comissão de Minas e Energia da Câmara, quer que o governo garanta oferta de crédito para a comercialização da safra e determine ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a liberação de recursos para investimentos.
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