Safra 2008/09 será decisiva nos rumos da crise e do mercado
2009 será um ano-chave para a agricultura brasileira e para a economia mundial. A avaliação é do agrônomo do Deral, Otmar Hubner. E, ao menos por enquanto, o cenário que se desenha pode ser favorável ao milho, cultura de verão que tem situação mais incerta no Brasil atualmente. Neste ano, o desempenho das exportações brasileiras de milho foi prejudicado pela colheita de boas safras de cereais na Europa e Ásia. “Quem não é auto-suficiente nesses continentes procurou fornecedores mais próximos, que têm preços mais competitivos”, explica o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), Lucilio Alves.
Mas depois de colher boas safras na temporada 2007/08, China e Europa, maiores consumidores de milho do mundo, devem ter produção menor e podem precisar importar mais no próximo ciclo. Os Estados Unidos, principal exportador, devem recuar a área de plantio na próxima temporada. Enquanto colhem as últimas lavouras, os produtores norte-americanos começam a planejar a safra 2009/10. Com custos elevados, crédito retraído e preços em queda no momento da comercialização, o clima no Hemisfério Norte é de ceticismo.
Safras menores nos principais players do mercado de milho abrem espaço para o Brasil, que é o único país que tem excedente considerável desse produto para exportar. Enquanto no mundo todo os estoques do cereal estão no mais baixo nível dos últimos anos, no Brasil são os mais altos da história. A previsão da Companhia Nacinal de Abastecimento (Conab) é de que o país encerre o ano com pouco menos de 14 milhões de toneladas estocadas, mais que o dobro do registrado no ano passado. O volume é suficiente para quase quatro meses consumo.
Mas, ainda que reduza a área no próximo ciclo, os EUA devem retomar espaço no mercado exportador, adverte a agrônoma do Deral Margorete Demarchi. Mesmo com os preços do milho caindo, a produção de etanol a partir do cereal não se viabiliza com o petróleo em queda livre, afirma. Um recuo na demanda por milho para a fabricação do combustível deixaria o país com maior excedente exportável, argumenta a agrônoma.
Fernando Muraro, analista da consultoria AgRural, concorda que os EUA podem incrementar sua participação no mercado internacional de milho no ano que vem, mas não acredita que isso irá acontecer às custas do etanol. Para ele, mesmo com margens apertadas, os norte-americanos continuarão destinando uma porção considerável de sua safra de milho para a produção do combustível. “Para atender à lei energética os EUA terão que continuar usando grande volume do grão para etanol”, argumenta o analista.
A Energy Bill, aprovada pelo congresso norte-americano em dezembro de 2007, estabelece metas para a substituição progressiva de combustíveis fósseis por energia renovável. A lei determina que o consumo de biocombustíveis seja ampliado para 49,2 bilhões de litros até 2012 (quase o dobro do atual). Em 2022, o consumo de etanol no país deve alcançar 136,3 bilhões de litros, sendo que o uso do combustível feito à base de milho está limitado a 56,8 bilhões de litros. Não parece muito, mas para atender a essa demanda, os EUA teriam que destinar 136 milhões de toneladas do cereal para esse fim, o equivalente a 44,5% da sua safra anual.
A Energy Bill, aprovada pelo congresso norte-americano em dezembro de 2007, estabelece metas para a substituição progressiva de combustíveis fósseis por energia renovável. A lei determina que o consumo de biocombustíveis seja ampliado para 49,2 bilhões de litros até 2012 (quase o dobro do atual). Em 2022, o consumo de etanol no país deve alcançar 136,3 bilhões de litros, sendo que o uso do combustível feito à base de milho está limitado a 56,8 bilhões de litros. Não parece muito, mas para atender a essa demanda, os EUA teriam que destinar 136 milhões de toneladas do cereal para esse fim, o equivalente a 44,5% da sua safra anual.
No maior produtor, queda generalizada dos embarques
Nos EUA, maior produtor e exportador de soja e milho do mundo, as vendas externas desses dois grãos tem um desempenho ainda pior que no Brasil. Por lá, haverá queda no volume embarcado tanto do cereal quanto da oleaginosa. Desde setembro, quanto teve início a temporada comercial 2008/09 no país, até a segunda semana de dezembro, 19,3 milhões de toneladas de soja haviam sido negociadas, volume semelhante ao registrado em igual período de 2007 (20 mi de t). A firmeza das vendas externas da oleaginosa é sustentada pela China, que já comprou dos EUA 10% mais soja que no ano passado. Até agora, o país asiático abocanhou 55% do total vendido pelos EUA (10,7 mi de t). No ano passado, nesta mesma época, metade do volume exportado pelo país teve como destino os portos chineses.
Mesmo com a demanda chinesa firme e apesar da produção 9% maior neste ano, a expectativa do departamento de agricultura do país (USDA) é de uma queda de mesma intensidade (-9%) nas exportações de soja. A produção norte-americana, que no ciclo anterior alcançou 72,8 milhões de toneladas, deve avançar para 79,5 milhões em 2008/09. Até agosto de 2009, quando termina a temporada agrícola norte-americana, o USDA estima que sejam negociadas 28,6 milhões de toneladas da oleaginosa. No ano passado, em 52 semanas, foram vendidas ao todo 31,6 milhões de toneladas.
Já as exportações de milho dos EUA não demonstram o mesmo fôlego. Até a segunda semana de dezembro, 20,2 milhões de toneladas do cereal haviam sido negociadas pelo país, volume 46% inferior ao registrado em igual período de 2007 (37,7 mi de t). No ciclo anterior, a colheita de uma safra recorde de 332 milhões de toneladas permitiu que o país enviasse ao exterior nada menos que 61,9 milhões de toneladas de milho. Neste ano, com previsão de uma produção 8% menor (305,3 mi de t), as vendas externas devem, por conseqüência, recuar também. E em maior intensidade. Por enquanto, o USDA espera uma queda anual de 26% nos embarques do cereal, com um total de 45,7 milhões de toneladas exportadas até agosto do ano que vem.
Mas para cumprir essa meta, os EUA teriam que escoar quase 700 mil toneladas do grão por semana durate oito meses e meio. Na semana de melhor desempenho até agora, as vendas externas de milho do país somaram 975,2 mil toneladas. Como a partir do início do ano o milho norte-americano começa a disputar espaço no mercado internacional com o produto sul-americano, a expectativa do mercado é que o relatório de janeiro do USDA traga nova redução da meta para as exportações de milho dos EUA.
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