Mulher morre durante lipoaspiração em clínica fechada
Essa seria a terceira cirurgia feita por Pastor em um membro da família de Elaine. A irmã da vítima, Sílvia Paula de Sousa, 32 anos, se submeteu a um procedimento de lipoaspiração no começo desse ano e ficou com seqüelas nas costas. A outra paciente é uma prima das duas. O médico não tinha autorização para fazer esse tipo de procedimento cirúrgico, segundo o Cremego.
Elaine é solteira e tinha duas filhas, de 9 e 12 anos. Ela morava em Portugal, de onde retornou há 40 dias. Para fazer a cirurgia, teria pago R$ 2 mil, à vista. Na ocorrência registrada pela Polícia Militar local, consta que ela morreu após convulsões seguidas de uma parada cardio-respiratória. As complicações teriam começado logo após a aplicação de uma anestesia. Sílvia teria sido chamada para ir ao hospital e encontrou a irmã já morta. De acordo com a queixa feita na delegacia, o médico não estava mais no hospital quando a família chegou. O corpo da jovem foi velado e sepultado ontem, em Palmeiras de Goiás.
O hospital estava interditado pela Vigilância Sanitária local desde outubro, a pedido do próprio Cremego. Uma comissão da entidade visitou o local e constatou que a clínica não tinha condições de funcionamento. "Não havia nenhuma condição sanitária e de recursos humanos no hospital", comentou o presidente do Cremego, o psiquiatra Salomão Rodrigues.
Entre as irregularidades constatadas pelo Cremego estava a ausência de uma comissão de controle de infecções. Além disso, não havia material de esterilização dos equipamentos usados em cirurgia e nem anestesista. "Há indícios de que esse médico realizava o ato anestésico e o cirúrgico, o que é vedado. Ainda mais em casos eletivos, como este (o que vitimou Elaine), já que não era emergencial", disse Salomão.
Uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no hospital no dia da cirurgia de Elaine, a pedido do médico, e constatou que as mudanças exigidas pelo Cremego não foram adotadas. A Vigilância vai abrir um processo administrativo que pode culminar com o fechamento do hospital.
Pastor - boliviano naturalizado brasileiro - reside em Palmeiras há nove anos e é proprietário do hospital. Há dois processos contra ele no Cremego. Um deles apura a morte de uma paciente. A reportagem tentou entrar em contato com o médico, sem sucesso. Agora, ele vai responder pelo processo que apura a morte de Elaine, com o agravante de ter feito uma cirurgia mesmo com o hospital interditado. "Ele pode recorrer contra a interdição cautelar primeiro no Conselho Federal de Medicina, depois na Justiça Comum", informou Salomão.
Na delegacia de Palmeiras de Goiás, uma agente informou que o delegado Eduardo Cardoso Gerhardt, titular na cidade, precisou se ausentar e só deve iniciar as investigações na próxima segunda-feira. O inquérito já foi aberto, mas, até agora, ninguém foi ouvido formalmente.
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