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Polícia Brasil
Segunda - 08 de Dezembro de 2008 às 15:33

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O delegado da Policia Civil de Colniza (1.160 km de Cuiabá) Vinicius Prezoto disse que ainda não há nenhum suspeito para a chacina ocorrida na sexta-feira na fazenda Bauru.

Duas pessoas foram presas até o momento na cidade, mas segundo o delegado, elas não tem ligação com o crime. Foram detidas por posse ilegal de armas. “Elas moram próximas ao local do crime e na casa delas foram encontrados uma espingarda, um revólver calibre 38 com numeração raspada e munições. Mas não foi comprovado envolvimento dessas armas com o triplo assassinato em Colniza”, disse o delegado ao site da TV Centro América.

Oito homens do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) também ajudam nas buscas do acusado. O clima ainda é de muita tensão na região. Neste domingo, a equipe do Bope tentou resgatar um grupo de aproximadamente 15 trabalhadores que ainda estariam dentro da fazenda Bauru. Há risco de novas emboscadas.

Os policiais foram em vários locais, mas não encontraram ninguém, apenas vestígios de pessoas em vários acampamentos. "Nós recolhemos também todos os pertences das vítimas que foram executadas na sexta-feira", disse o major da Polícia Militar Adalberto Gonçalves ao site da TV Centro América.

A área é extensa e o atentado de sexta-feira (05) contra quatro funcionários da fazenda, onde três foram executados, aconteceu na estrada que dá acesso à primeira sede, a principal, que fica distante 38 km da sede do município. A segunda sede fica há cerca de 90 km da cidade. O local é de difícil acesso. As estradas são estreitas, com muitos atoleiros, cortada por pequenos córregos e outros obstáculos encontrados na região de mata fechada.

A polícia recebeu uma informação hoje de que outras duas pessoas teriam sido executadas na área. No início da manhã de domingo o BOPE se dirigiu para a fazenda que é motivo de disputa entre o proprietário e grileiros, com objetivo de verificar a denúncia. Até o momento não foram confirmadas as supostas mortes.

A polícia conseguiu chegar na segunda sede da propriedade, mas não encontrou ninguém. A informação é que os outros funcionários podem estar acuados e com medo da violência na região. As vítimas do conflito têm sido principalmente funcionários e proprietários da fazenda. "Os últimos atentados foram contra funcionários da fazenda", disse um policial que está na região.

A segunda sede da fazenda tem pista de pouso para aeronaves de médio porte. "Mas a pista está abandonada. Desde que começaram os conflitos, poucas pessoas têm se arriscado a chegar na segunda sede, no meio da fazenda. Por isso o mato tomou conta da pista", disse um policial militar. Esta sede também foi destruída no ano passado. A casa e a mobília do local foram queimadas. Os funcionários que hoje estão no local estariam recuperando a sede.

Em fevereiro deste ano um representante da fazenda Bauru sofreu uma tentativa de homicídio quando visitava a propriedade. Um disparo atingiu o pára-brisa do carro que era conduzido pelo empresário, acertando o ombro de um funcionário que estava no banco traseiro. Trabalhadores do município contam que a região está sendo invadida por grileiros profissionais que querem expulsar as famílias usando violência e intimidando-as.

Ipê: o ouro da floresta de Colniza

Boa parte da área é de mata fechada e pertence a uma empresa agropecuária. O principal motivo da disputa pela área seria a madeira da floresta. Há muitas espécies comerciais, mas grande parte da mata nativa é tomada por árvores de ipê. O metro cúbico de ipê custa cerca de R$ 480. "Cada árvore produz cerca de três metros cúbicos de madeira, ou até um pouco mais", explicou outro policial que está na região. Este seria o ouro da floresta de Colniza, que tem despertado a cobiça de grileiros, gerando um conflito que já dura mais de dois anos. A posse definitiva da terra também seria mais um motivo de disputa.

A confusão teria começado quando há cerca de dois anos um grande número de grileiros e famílias sem-terra ocuparam parte da área. Após muitas ameaças ações violentas no local, proprietários da fazenda e as famílias que ocupavam a área chegaram a um acordo, mediado pelo Governo Federal e o Governo Estadual. Foi feito um assentamento na região.

Em abril deste ano, o Comitê de Acompanhamento de Conflitos Fundiários visitou diversas áreas que estão em litígio para conhecer a relação entre posseiros e proprietários de fazendas invadidas, orientando e buscando a solução de forma organizada e pacífica. O proprietário da área já havia conseguido na justiça, a reintegração de posse. Com o acordo estabelecido os proprietários da fazenda doaram uma área de 5.050 hectares para abrigar 100 famílias que ocupavam a fazenda. Cada uma delas está recebendo um lote de 50 hectares. Outros 50 serão destinados à construção de uma vila de convivência social. Desde julho deste ano, as famílias começaram a ocupar seus lotes, devidamente demarcados e divididos.

Mas para surpresa, os conflitos e ameaças não cessaram. As investigaçõs ficaram mais complicadas. Quem estaria por trás dos novos atentados? Os trabalhadores que receberam os lotes afirmam que não são eles. Mas há a possibilidade de grileiros profissionais estarem infiltrados entre os assentados. Outra possibilidade é a de que esses grileiros, na verdade estariam agindo a mando de terceiros, para tomar a área em definitivo. Essas são algumas das possibilidades que levaram ao atentado de sexta-feira.

Policiais também vivem situação de risco

Em uma cidade de difícil acesso, com estradas sem pavimentação, distante 1.160 quilômetros da capital, a situação de poucos policiais que moram na região também é delicada. Ameaças veladas contra as famílias de policiais já foram ouvidas na cidade. Para buscar mais segurança, principalmente para a família, alguns policiais estão tirando esposas e filhos da região. Informações não oficiais dão conta de que muitas armas teriam chegado na cidade nos últimos meses.

No atentado de sexta-feira uma pessoa sobreviveu. A identidade da mulher não foi revelada. Ela é a única sobrevivente da emboscada onde morreram três funcionários da fazenda, entre eles o topógrafo Paulo Gilberto Gobetti (53), que veio do estado do Paraná para trabalhar na região. Segundo informações, a mulher não corre risco de morte e está se recuperando bem. Ela já saiu da cidade e está sob proteção policial.

Ontem, dois suspeitos de envolvimento com o crime foram presos. Eles negam participação nos homicídios. A polícia também não divulgou a identidade deles até o momento.





Fonte: TVCA

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