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Internacional
Quarta - 19 de Novembro de 2008 às 16:25
Por: John Roach

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Se você é o que você come, a maioria dos americanos é feita de milho, de acordo com uma pesquisa recente. Uma análise química dos pratos preferidos em cadeias de fast food revelou que alguma forma do grão representa o principal ingrediente na maioria dos itens - especialmente a carne bovina.

Os pesquisadores examinaram a composição molecular de hambúrgueres, sanduíches de carne de frango e batatas fritas comprados em três cadeias de fast food, em seis cidades dos Estados Unidos. "Das centenas de refeições que compramos, havia apenas 12 porções de alguma coisa que não recuasse diretamente ao milho como fonte", disse Hope Jahren, diretora científica do estudo e pesquisadora de geobiologia na Universidade do Havaí, em Honolulu.

O domínio do milho sobre o fast food dos Estados Unidos era conhecido, "mas a análise química realmente o destaca de maneira que não havia surgido anteriormente", disse Craig Cox, vice-presidente do grupo ambientalista Environmental Working Group, na região centro-oeste dos Estados Unidos.

Tudo recua ao milho

Jahren, a autora do estudo, aponta que o milho tem propriedades bioquímicas únicas que permitem a pesquisadores identificar sua assinatura ao passar pela cadeia alimentar - de planta a tecido animal a comida humana cozida, por exemplo. Jahren e seus colegas utilizaram essa assinatura para determinar se o conteúdo de fast food atendia às descrições das cadeias de restaurantes quanto aos ingredientes e forma de preparo de seus pratos.

Os detalhes oferecidos pelas redes Wendy's, McDonalds e Burger King quanto a isso são "vagos e eufemísticos", disse Jahren. Mas a análise da equipe "conta uma história bastante simples e direta - e tudo recua ao milho". As batatas fritas muitas vezes são preparadas com óleo de milho, e vacas e galinhas comem milho ou rações fertilizadas com milho. Não só a assinatura do milho é dominante como se apresenta de forma notavelmente homogênea em todo o país e em diferentes restaurantes, ela disse.

Sistema subsidiado

A prevalência do milho nos Estados Unidos é reforçada por uma cesta de subsídios federais que encoraja os agricultores a se especializar na produção da safra. Isso, por sua vez, encoraja o setor de carne a basear sua produtividade no milho, o que estimula a demanda geral pelo cereal. "É esse ciclo que se reforça automaticamente, o que temos em ação, e ele apóia todo o modelo industrial de produção de carne", disse Cox sobre o estudo. O resultado final é um sistema de alimentação dominado pelo milho, e isso acarreta diversas conseqüências de saúde.

A literatura científica sobre pessoas que comem carne de gado alimentado com milho e não com gramíneas - uma fonte mais natural de alimento - revela uma alteração na composição das gorduras na dieta humana. A mudança pode ser a causa de questões de saúde como a incidência ampliada de doenças cardíacas, diabetes e obesidade, apontou o escritor Michael Pollan em "Omnivore's Dilemma", um livro de 2006.

Campos de milho com vazamentos

Do ponto de vista ambiental, a situação não é muito melhor. O milho recebe cerca de 35% de todos os pesticidas agrícolas e 40% dos fertilizantes comerciais em uso nos Estados Unidos. E porque plantações de milho "têm vazamentos inerentes", muitos desses produtos se perdem na água e no ar, diz Cox.

Por exemplo, o nitrogênio usado em fertilizantes, caso se transforme em óxido nitroso representa um gás causador do efeito-estufa com potência 300 vezes superior à do dióxido de carbono. Os consumidores precisam saber o que o milho que consomem contém, disse Jahren. "O que fizemos de mais importante foi colocar em destaque essa lacuna de informações".

Tradução: Paulo Migliacci





Fonte: National Geographic

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