Governo vê risco maior na venda da safra
O governo precisará desembolsar mais dinheiro no início de 2009 para evitar um agravamento da crise no setor rural.
Apesar da injeção de R$ 13 bilhões neste ano -incluindo recursos do Banco do Brasil, da poupança rural e de parte dos depósitos à vista dos bancos- para garantir o plantio da safra 2008/2009, o problema maior ainda está por vir com o período da colheita e da comercialização, segundo o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luis Carlos Guedes Pinto.
"O risco maior não é o da safra, mas da comercialização no ano que vem, quando haverá uma oferta maior de produtos no mercado e será preciso segurar o preço", disse à Folha.
Segundo ele, o governo precisará se antecipar e direcionar mais recursos do Orçamento para aquisições de produtos pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e empréstimos de comercialização. Isso evitará uma queda forte na renda dos produtores por causa da maior oferta.
Ele não fala em números, mas explica que o reforço de dinheiro para o setor será necessário porque, em função da crise deste ano, as tradings (empresas que costumam financiar o setor comprando antecipadamente parte da produção) saíram de cena.
Sem a venda antecipada, na época da comercialização os produtores inundarão o mercado, o que reduzirá os preços. "Na hora da comercialização, muito provavelmente, será preciso uma presença maior do governo para sustentar preço", avalia Guedes Pinto.
Ele afirma que os principais instrumentos para isso são os empréstimos feitos pelos bancos, sobretudo pelo BB, que dão ao produtor um tempo maior para efetuar a comercialização, e as aquisições diretas de produtos e operações no mercado de opções, feitas pelo governo por meio da Conab.
"O governo precisará se antecipar e aumentar esses recursos. Hoje, o dinheiro para aquisições é do Orçamento, já está definido e certamente será insuficiente. Antes, esses recursos eram ilimitados. Era a época do "plante que o João garante", mas isso não existe mais", justifica, referindo-se ao slogan do programa de incentivo à agricultura criado no governo militar do presidente João Baptista Figueiredo.
Apesar de reconhecer como séria a situação atual, o executivo do BB acredita que o quadro não é tão caótico quanto fazem parecer os produtores rurais, ao ponto de compará-lo à crise das hipotecas nos EUA. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), um dos maiores produtores de soja, disse que a "bolha do "subprime" agrícola" estourou.
Ex-ministro da Agricultura, Pinto avalia que a crise atual mostrou que o modelo de financiamento do setor rural no Brasil está ultrapassado e precisa ser reavaliado. Como maior agente financeiro do setor, o BB integra um grupo no governo para discutir - paralelamente aos debates sobre soluções para o problema de curto prazo - uma ampla reforma nos instrumentos de empréstimos para o setor.
O foco é aperfeiçoar e aumentar o uso dos seguros contra problemas climáticos e perdas de safra e também "criar a cultura nos produtores de fazer seguro de renda".
Ele explica que a taxa de juros hoje de 6,75% ao ano atribuída às operações do setor rural é "ilusória" porque os produtores precisam recorrer a diferentes fontes de recursos, já que os financiamentos dos bancos não são suficientes e cobrem apenas um terço do custo de produção.
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