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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 17 de Novembro de 2008 às 06:50
Por: Jean Carlos e Thiago Almeida

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Grande parte dos profissionais do sexo que atuam em Mato Grosso, os chamados garotos e garotas de programa e também transexuais, já foram ou já receberam proposta para trabalhar no exterior. É o que mostra, a princípio, um levantamento que está sendo feito pela Campanha Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, é realizada pelo Centro de Referência em Direitos Humanos de Combate à Homofobia, ligada à Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

E – creiam – há dados surpreendentes. Como o caso de M.R.A, 25 anos, que começou a trabalhar como garota de programa. Há um ano na profissão, ela recebeu um convite para morar no exterior, mas recusou por ter medo dos riscos a que estaria exposta. Ao contrário de muitos que recebem convites de amigos ou aliciadores, M.R.A recebeu convite de seus próprios familiares. "A princípio eles me disseram que era para trabalhar como faxineira, mas eu sabia do que se tratava", declara.

A equipe formada por psicólogos, assistentes sociais, policiais civis e militares e representantes de ONGs visitaram, na última semana mais de 20 boates e zonas de prostituição, em Cuiabá e Várzea Grande. O objetivo é conscientizar quem homens e mulheres quanto aos riscos que uma proposta de trabalho no exterior podem apresentar, que muitas vezes está disfarçada sob outras ameaças.

Nos locais percorridos foram realizadas palestras, distribuição de preservativos, folders, cartazes informativos, e cartões contendo os números de telefone para denúncias. Temas como Doenças Sexualmente Transmissíveis são abordados durate os encontros, com a finalidade de reduzir os crescentes índices de mortalidade por DSTs.

De acordo com o palestrante Adriano Real, atualmente existem cerca de 75 mil garotos de programa brasileiros em outros países. Destes, 80% sofrem violência física, 60% são abusados sexualmente, 100% são devedores de seus "contratantes" e 10% morrem. Os dados, segundo Adriano, são alarmantes.

Mesmo com os altos índices de brasileiros que sofrem violência física após entrar em outros países para trabalhar com a prostituição, muitos ainda enxergam uma viagem ao exterior como oportunidade de ascensão social. Histórias de amigos, parentes ou conhecidos chamam a tenção, porém, nem todos aceitam arriscar-se. P.E., por exemplo, afirma que, mesmo sabendo que uma amiga está ganhando na Europa o que nunca ganharia trabalhando no Brasil, recusou o convite para morar lá. "A gente conversa muito e ela me disse que gostou bastante da Europa. Hoje ela paga babá para seus filhos e possui uma casa muito bonita. Ela já me convidou para ir pra lá, mas eu nunca tive coragem. Acho que é um risco muito alto" - avalia.

S.F, 25 anos, também sabe dos riscos que o trabalho no exterior oferece. A jovem nunca recebeu proposta, mas é taxativa quanto à resposta. "Não!", diz. Após financiar um automóvel e estar bem próxima de ter a casa própria, ela planeja, com a mãe, montar uma loja de confecções. Para alcançar seu objetivo pretende continuar na prostituição. "Não tenho estudo, sei que para ganhar o que ganho teria que fazer uma universidade e competir com milhares de pessoas. Mesmo assim, correria o risco de ter um baixo salário", afirma.

Adriano ressalta que a importância da Campanha Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas está, principalmente, em revelar os dados a quem convive com essa realidade. "Buscamos fazer um trabalho de conscientização, para que as pessoas estejam cientes de que se não denunciarem, o poder público não poderá agir a seu favor", explica.

A Campanha é apoiada em Mato Grosso pelas Secretarias de Estado de Saúde, de Desenvolvimento do Turismo, além dos parceiros como Polícia Militar, Polícia Judiciária Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, entre outras instituições.





Fonte: 24 Horas News

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