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Economia
Quarta - 12 de Novembro de 2008 às 11:20
Por: Alexandro Martello

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Se a crise financeira não atrapalhar, o trabalho pode voltar a representar a principal fonte de renda do país em 2011, ou seja, depois de 21 anos em posição secundária, segundo informou nesta quarta-feira (12) o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Márcio Pochmann. A última vez que a renda do trabalho esteve superior às outras rendas (capital e propriedade) foi em 1990.

O estudo da renda do trabalho, divulgada pelo IPEA, tem por base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A renda total do país é composta pela renda do trabalho, e pelas rendas do capital (oriundas de aplicações financeiras, como ações, títulos públicos e derivativos - mercado futuro, entre outros) e da propriedade (aluguéis, por exemplo).

Segundo Pochmann, que apresentou o estudo nesta quarta-feira, a parcela da população que recebe renda de capital e de propriedade no Brasil é "pequena". Por isso, argumenta ele, é importante que a renda do trabalho continue tendo crescimento. "Em países desenvolvidos, a renda do trabalho responde por 60% a 70% da renda total", notou o presidente do IPEA. De acordo com ele, o aumento da renda do trabalho é importante para reduzir as desigualdades sociais no país.

Números

Dados da PNAD, citados pelo IPEA, mostram que, em 1990, 53,4% da renda nacional era oriunda do trabalho, enquanto 46,5% referia-se a rendas do capital e das propriedades. Esse cálculo foi feito após o abatimento dos impostos líquidos (apenas os indiretos, como IPI, PIS e Cofins, enquanto os diretos, como IR e CSLL não foram contabilizados), que representariam 15% de toda a renda nacional. De 1990 a 1996, quando chegou ao piso de 45,4%, houve queda na participação da renda do trabalho. Daí em diante, voltou a subir progressivamente, chegando a 46,9% em 2007, contra 51,1% das outras fontes de renda. Se essa tendência for mantida, diz o IPEA, o trabalho voltará a ser a principal fonte de renda do país em 2011.

Manutenção do crescimento

O presidente do IPEA avaliou, porém, que a tendência de subida da renda do trabalho terá prosseguimento somente com a manutenção do processo de crescimento econômico que foi registrado nos últimos anos. Para isso, disse Pochmann, é importante que haja uma "recomposição" dos gastos públicos, por meio da redução das despesas com juros da dívida pública e aumento dos gastos com Educação, Saúde e investimentos em infra-estrutura.

"Não entendemos que há inflação de demanda [maior procura por produtos e serviços] no Brasil que justifique elevação de juros. A questão dos juros é importante para o enfrentamento da inflação de demanda", disse Pochmann a jornalistas, explicando porque os gastos com juros poderiam ser reduzidos. Na visão do BC, expressa na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), porém, os juros podem voltar a subir para controlar a inflação.

Na avaliação de Pochmann, entretanto, a subida inflação registrada no primeiro semestre deste ano deveu-se ao aumento dos preços das "commodities" (alimentos, aço e petróleo, entre outros). De agora em diante, com a piora da crise financeira, poderia ser causada pelo aumento do dólar, mas não pelo crescimento da demanda, disse ele.

Dados do IPEA, que já foram divulgados anteriormente e que são amplamente conhecidos, mostram que os gastos com juros são muito maiores do que os gastos com outras despesas, como Educação, Saúde e os próprios investimentos. Entre 2000 e 2007, as despesas com juros somaram US$ 1,26 trilhão, enquanto a Saúde consumiu R$ 310 bilhões e a Educação teve R$ 149 bilhões. No caso dos investimentos, eles totalizaram R$ 93 bilhões entre 2000 e 2007, diz o IPEA.





Fonte: G1

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