Crise global freia projetos de expansão de álcool no Brasil
A crise global impôs um novo freio nos projetos de expansão da produção de açúcar e de álcool. Segundo cálculos do setor, pelo menos 47 projetos de implantação de novas usinas foram adiados. No ano passado, havia a estimativa de que 140 usinas seriam implantadas até 2015. A previsão caiu para 93.
A maioria dos projetos em fase inicial foi suspensa à espera de que o cenário econômico fique mais claro. O grupo Rede Energia (dono de nove distribuidoras de energia elétrica) planejava construir duas usinas de álcool em Mato Grosso do Sul, para entrarem em operação em 2011 e em 2012, com capacidade para moagem de 5 milhões de toneladas de cana e investimento de R$ 1 bilhão.
Um dos projetos foi adiado, segundo José Carlos Constanzo, vice-presidente do grupo. "Fica difícil viabilizar um investimento de tal porte neste momento de crise."
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e de Álcool de Minas Gerais, Luiz Custódio Cotta Martins, de 12 projetos já aprovados pelo governo do Estado, 6 estão sendo postergados.
"As empresas que ainda não encomendaram o maquinário nem garantiram a fonte de financiamento vão esperar o desenrolar da crise para reavaliar suas decisões", afirma Martins.
É o caso da Usina Alvorada, de Araporã (MG). A empresa estava providenciando as licenças para implantação de nova unidade --com capacidade inicial de moagem de 1,5 milhão de toneladas de cana--, no município vizinho de Tupaciguara, quando explodiu a crise.
O presidente da empresa, Alexandre Pirillo Franceschi, conselheiro da Coopersucar, diz que parte dos recursos para o projeto depende de investidores estrangeiros, e eles refluíram. "A crise trouxe fatores positivos e negativos que ainda não estão bem dimensionados. Com os níveis atuais dos preços do petróleo, o álcool perde competitividade na exportação. A restrição ao crédito e o aumento dos juros também afetam negativamente, mas a desvalorização do câmbio torna a exportação de açúcar mais competitiva. É preciso ver o que vai pesar mais na balança."
O setor enfrentou preços deprimidos na safra 2007/8, e foi apanhado pela crise internacional quando estava com margem de lucratividade muito estreita, segundo avaliação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A média dos preços reais do açúcar cristal, do álcool anidro e do álcool hidratado pagos ao produtor no ano passado foi a menor desde a safra 1999/ 2000, considerada a mais crítica da história recente do setor.
Por conta disso, várias empresas já estavam propensas a adiar os projetos de expansão quando começou a crise.
Cooperativas
No Paraná, duas cooperativas adiaram projetos de implantação de usinas de açúcar e de álcool: a Corol (Cooperativa Agroindustrial de Rolândia) e a Coopcana (Cooperativa Agrícola Regional de Cana).
O da Coopcana é uma unidade com capacidade inicial de moagem de 1,5 milhão de toneladas. Anísio Tormena, diretor da cooperativa, diz que o projeto começou a ser desenvolvido em 2007. "Pretendíamos deslanchá-lo em 2009, mas já adiamos para 2010. Falta capital de giro, a exportação de álcool para a Europa e para os EUA parou. Os custos dos insumos aumentaram muito. O adiamento é uma decisão óbvia."
O presidente da Corol, Eliseu de Paula, diz que a construção da usina é necessária para a diversificação da produção agrícola na região de Londrina.
"Estávamos buscando financiamento com agentes internacionais. Ficamos temerosos de levar o empreendimento, de R$ 250 milhões, adiante neste momento. Os bancos também nos recomendaram o adiamento. Vamos empurrá-lo para 2010 ou 2011."
Levantamento
A quantificação dos projetos adiados foi feita pela publicação especializada "Jornal Cana", de Ribeirão Preto, para o próximo anuário do setor, a ser divulgado no final do mês.
Segundo o presidente da publicação, Josias Messias, as empresas prevêem que 28 novas usinas entrarão em operação durante o ano que vem, e que 29 entrariam em operação em 2010.
Já a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz que 32 projetos entrariam em operação nesta safra, mas 10 sofreram atraso. Messias acredita que, dentre as que anunciaram o início das atividades para 2009, 8 não chegarão a moer cana durante o ano.
Sobre a viabilidade das projeções para 2010, ele considera ser uma incógnita.
"Cada safra é uma história. A de 1999/2000 foi a pior da história recente do setor, e a seguinte, de 2000/1, foi a melhor, porque muitas usinas quebraram, faltou cana e o mercado consumidor cresceu. O produtor recebeu R$ 1 pelo litro de álcool naquele ano. Esse preço nunca mais se repetiu."
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