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Cidades/Geral
Segunda - 10 de Novembro de 2008 às 14:03
Por: Raoni Ricci

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Dona Regina da Silva, moradora de um bairro de classe média em Cuiabá, atende o celular e recebe uma notícia muito triste. Seu filho mais novo havia acabado de ser assassinado durante uma tentativa de assalto após sair de uma agência bancária. A reação é óbvia, de muito sofrimento. Desesperada, a mãe chora muito, passa mal e recebe cuidados médicos. Amigos e familiares tentam confortá-la, mas essa dor é insuperável.

A situação relatada é cada vem mais comum no estado de Mato Grosso, todos os dias uma Dona Regina chora a morte de um filho, principalmente na Grande Cuiabá, onde em 2008 já são cerca de 300 assassinatos, entre homicídios e latrocínios. Números como esses colocam Cuiabá como a sétima capital mais violenta do País, segundo o Mapa da Violência dos Municípios deste ano, com um índice de 45 assassinatos a cada 100 mil habitantes. É um índice equivalente ao registrado em cidades em conflitos e guerras como em Medellín e Cali, na Colômbia, no Iraque, no Afeganistão.

O que intriga a população é a falta de vontade política para resolver o problema. As pessoas questionam e criticam a falta de ações dos governos para diminuir a violência na capital. “Quase não vejo a polícia nas ruas, nos lugares em que a questão é mais grave. Os bandidos na maioria das vezes têm sucesso em seus assaltos, pois a polícia demora a chegar ou nem chega”, revela uma professora que leciona no bairro CPA IV.

Ela ressalta que o problema da violência precisa ser resolvido começando nas escolas, e trabalhando com as crianças de hoje. “Acredito que devemos olhar mais para as nossas crianças, focar as ações nelas. Mudar a maneira de educar, tirá-la das ruas e fazer com que a escola seja um local mais atrativo do que a rua”, aponta.

Para os especialistas, o cérebro da violência é o tráfico de drogas e sua força. Toda a criminalidade gira em torna do tráfico, que é sustentado pelos usuários. A conta é bem simples. O dinheiro que um viciado paga em um papelote de cocaína ou uma porção de maconha é usado para compra de armas, que são utilizadas nos roubos, assassinatos, seqüestros e todos os tipos de crimes. “A finalidade é levantar dinheiro para a compra de drogas. É um círculo vicioso. Isso não quer dizer que temos que tratar os adictos (usuários) como marginais, eles na verdade são outras vítimas desse sistema”, avisa um sociólogo.

Nas grandes cidades brasileiras o tráfico de drogas está bem montado e articulado. Existe o braço criminoso e o braço político dos narcotraficantes, por isso a grande dificuldade de acabar definitivamente com esse câncer da sociedade. “Nas favelas e periferias, os traficantes se impõem e dos gabinetes de certos vereadores e deputados, conseguem uma retaguarda que facilita a ação. É assim em Cuiabá, é assim no Rio de Janeiro, é assim em São Paulo”, revela um militar que não quer ser identificado.

Há mais de 15 anos trabalhando em Mato Grosso, com mais oito anos de serviços prestados no estado do Rio de Janeiro, ele afirma que as Polícias Militar e Civil sabem onde funcionam todos os pontos de venda de drogas, mas não agem de maneira sincronizada, brigam entre si e ainda esbarram em entraves políticos.

“Existe um mapa do tráfico em Cuiabá e Várzea Grande, o que não existe é um trabalho definitivo, sério, pois muitas vezes a polícia prende certas pessoas e lá de cima vem uma ordem e manda soltar, entende?”, ironiza. O militar é enfático e garante que existe alguns políticos que participam diretamente do tráfico. “Existem os bons e os maus políticos, e essa segunda classe tem dificultado e muito o nosso trabalho, pois da cobertura para os criminosos, pois tem interesses diretos no tráfico de drogas, se sustentam politicamente com isso".





Fonte: 24 Horas News

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