Atrasado, São Paulo dá inédita arrancada por título
Para se tornar um campeão temporão inédito, o São Paulo foge de suas características e dá uma arrancada incomum no segundo turno do Brasileiro dos pontos corridos. É neste embalo que lidera o Nacional.
Normalmente, o time paulista faz campanhas regulares, com números parecidos nos dois turnos. A única exceção é em 2005, quando a equipe abandonou o início da competição por priorizar a Libertadores. Depois, recuperou-se, saiu da zona de rebaixamento, mas ficou longe do título, em 11º.
De resto, o time nunca teve uma diferença de mais de seis pontos entre os totais obtidos em uma metade e outra do campeonato. O percentual de pontos obtidos em cada turno não variava mais do que 10%.
Neste ano, o São Paulo ganhou 33 pontos no primeiro turno, ou 57,9%. A cinco rodadas do final, já soma 29 pontos na segunda etapa, com rendimento de 69%.
"Em 2004, quando estava aqui, jogamos bem em todo o campeonato. Não acompanhei bem a primeira fase deste campeonato, mas me sinto feliz de sermos líderes", lembrou o zagueiro Rodrigo.
De fato, naquele ano, o São Paulo fez exatamente os mesmos 41 pontos nos dois turnos.
Com arrancada incomum, o time paulista pode obter feito inédito nos pontos corridos se ganhar o título. Será o campeão que mais demorou para assumir a liderança.
Até este ano, os vencedores chegavam ao topo ainda no primeiro turno, ainda que perdessem provisoriamente a posição, segundo levantamento do Datafolha. Em 2007, o São Paulo já chegara ao topo na 17ª rodada. Mesmo tempo demorou o Corinthians, em 2005, para atingir a ponta da tabela.
Os outros campeões dominaram a tabela ainda antes desta rodadas. E, na maioria dos casos, se consolidavam na ponta antes da 30ª rodada, sem perder mais a dianteira.
A única virada no final foi com o Santos, que assumiu a liderança na 45ª rodada ou penúltima do Nacional de 2004, quando disputava cabeça a cabeça com o Atlético-PR. Mas o time já se revezava na frente desde o primeiro turno.
A explicação para arrancada tardia são-paulina está na boa fase de alguns atletas e na entrada de outros, principalmente com as mexidas na zaga.
"Claro que penso grande [atingir sua meta de 11 gols no Nacional]. Os gols estão saindo agora. Comecei a fazer gol meio tarde", admitiu Dagoberto.
Mas o que tem pesado mais não são nem os gols feitos, mas os evitados. Com André Dias, Miranda e Rodrigo na zaga, a defesa tomou 10 gols em 14 jogos, média de 0,71. No primeiro turno, a média era de 1,1.
Consciente de sua força defensiva como arma, o técnico Muricy Ramalho preferiu tornar ainda mais consistente seu meio-campo ao mexer no time para o jogo com a Portuguesa, sábado. Para substituir o meia Hugo, suspenso, preferiu a opção mais cautelosa, em treino coletivo ontem.
Joílson ganhou uma vaga na equipe, na ala direita. Zé Luís, que vinha jogando no setor, passa para o meio. Comporá a dupla de volantes com Jean.
Enquanto isso, Hernanes, que sempre atuou como volante, virou o armador do time, mais avançado, tentando enfiadas de bola rasteiras. "É difícil repor um jogador como o Hugo, que não tem igual no elenco", observou Rodrigo.
Os treinos de bola parada pelo alto também foram uma prioridade. Segundo o Datafolha, a Portuguesa é o time que sofre mais gols de cabeça no Brasileiro, com 17 gols.
Ancorado nos números, o São Paulo constrói sua campanha imprevista.
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