Banco Central decide juros em meio a incertezas
A forte oscilação do dólar nas últimas semanas acrescentou um complicador na já difícil decisão sobre juros que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) vai tomar nesta semana.
Depois de um relativo consenso sobre a necessidade de elevação das taxas para combater a inflação nas últimas reuniões do comitê, a política de juros do BC volta a dividir opiniões.
De um lado, há os que apostam na elevação argumentando que o BC vai tentar evitar que a recente disparada do dólar tenha um impacto muito grande na inflação.
Vários analistas de mercado fazem parte desse grupo. “O impacto do dólar na inflação será alto, por isso esperamos um aumento de 0,50 ponto percentual nos juros”, diz Flávio Serrano, da BES Investimento.
A lógica é que o dólar mais alto encarece produtos importados ou com componentes importados, além de abrir espaço para aumento de preço dos concorrentes nacionais.
Cerca de um terço dos itens que compõem o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) sofre o impacto direto do câmbio. Com o dólar mais caro, produtos de forte consumo, como trigo, petróleo e vestuário, ficam mais caros em reais.
A pesquisa Focus, feita pelo próprio Banco Central com analistas de mercado e divulgada nesta segunda-feira, mostra que a maioria espera um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa, que passaria de 13,75% para 14% ao ano.
No último relatório de inflação, divulgado em setembro, o BC usou como referência uma cotação de R$ 1,80 por dólar para projetar seus cenários de inflação. Desde então, a moeda americana vem sendo negociada acima de R$ 2. Na quarta-feira, 22, chegou a R$ 2,38.
Parada técnica
Os defensores da redução ou da manutenção dos juros argumentam que a retração da economia mundial vai reduzir preços em dólar no mercado internacional, o que, em parte, compensaria a eventual alta do dólar.
"Olha só o dilema da política monetária", diz o economista da Universidade de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo.
"Eles estão vendo que a desvalorização está afetando os preços domésticos, via câmbio. E ao mesmo tempo estão vendo que a recessão caminha a passos largos no mundo inteiro e provavelmente teremos desaceleração aqui também. O BC está metido numa confusão. Minha opinião é de que aumentar os juros agora não vai adiantar nada. Não vamos conseguir aplacar esse movimento do câmbio."
Outro argumento entre economistas que acreditam que um aumento dos juros não deve – ou deveria – acontecer é que em meio à atual volatilidade é muito difícil prever o real impacto do dólar e da retração da economia nos preços.
Para o diretor do departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini, o Copom se reúne em um momento "atípico". Segundo ele, a alta volatilidade do dólar prejudica as análises, diminuindo o campo de visão – não só do BC brasileiro, mas dos bancos centrais em todo o mundo.
"No final das contas, não é exatamente a alta da moeda que preocupa, mas a variação excessiva", diz. Em sua opinião, a tarefa do Copom não será fácil. "O comitê terá de tomar uma decisão em meio ao sobe-e-desce do dólar (…). O problema é que há falta informação dos dois lados. Talvez o Copom tenha de esperar e não fazer nada nesse momento", diz Francini.
Para ele e outros economistas, o risco de se cometer um erro agora é que a subida dos juros contribua para uma redução excessiva do crescimento econômico no Brasil.
Em função da grande volatilidade dos mercados, economistas não descartam a possibilidade de uma "parada técnica" – ou seja, manter os juros como estão até a próxima reunião, em dezembro.
O ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, considera inviável uma redução dos juros nesse momento, "pois não se sabe até onde vai o câmbio”. Para ele, “o mais indicado é uma trégua, para avaliar a evolução do dólar".
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