Tambacu com 34 kg é pescado no rio Cuiabá
O pescador amador, Evaldino Hillesheim, de 51 anos e 30 de pescaria, junto com Gonçalo Gonçalves, caseiro de sua chácara, capturaram um tambacu de 34 quilos com 1,10m. A façanha ocorreu próximo a Barra do Aricá (25 km depois de Santo Antonio de Leverger). Mas, ao contrário do que possa parecer, isso é um mau sinal para o rio Cuiabá. É o que garante o ictiólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco Machado.
Ele analisou dessa forma, porque o tambacu é um híbrido (criado pelas mãos do homem). É um cruzamento de pacu com tambaqui, ou seja, não é uma hibridação natural. Conforme o pesquisador, a cruza acontece naturalmente, de tempos em tempos, na natureza. Mas o que estamos vendo são criações de verdadeiros "Franksteins" (o ser humano feito com pedaços de mortos que ganha vida, cuja história foi escrita por Mary Shelley).
"Há cruzamentos feitos pelo homem, de piraputanga com matrinxã, pintado com pirarara (muito usado na aquariofilia) e também de pintado e cachara com o jundiá, da bacia amazônica". Para ele, ocorre uma verdadeira festa com alto custo ambiental sem que haja uma justificativa plausível, a não ser o ganho financeiro.
Isso ocorre, segundo o professor, porque Mato Grosso é o único estado brasileiro que tem aval legislativo para realizar a hibridação. Os híbridos são feitos para venda. Mas acabam sendo soltos por estouro de tanques em piscicultura ou até mesmo por pessoas públicas que ocupam cargos e que soltam esses "peixinhos" junto com os pacus.
Machado informou que há muita procura da piscicultura para estes espécimes porque o consumo dos restaurantes é abastecido por eles. "Não pense que o que se come nos restaurantes cuiabanos, em sua maioria, é pacu. Na verdade é o tambacu, que é mais seco, não tem tanta gordura, coisa que o consumidor não gosta".
O pesquisador disse não entender como o Governo do Estado pode deixar passar uma lei que mexe tanto com a natureza e deixa o homem "brincar de Deus", enquanto a sociedade não aceita pesquisas com células-tronco, que poderia fazer bem a vários problemas de saúde. "Criar híbridos é um absurdo. É como se cruzássemos um homem com um chimpanzé para surgir um ser destinado a trabalhar com serviço braçal. Ninguém aceitaria isso", fez a analogia, o também ictiólogo, Alexandre Cunha Ribeiro. O perigo dos híbridos é que se transformam em outra coisa com o tempo e não se pode prever que tipo de mutações vão ocorrer ou que prejuízos causarão às espécies naturais. O tambacu, por exemplo, é um híbrido considerado estéril, mas já existem informações de que já foram encontrados indivíduos férteis.
Quem criou - O tambacu foi "criado" há 30 anos pelo Cepta, o maior centro de estudo de piscicultura da América Latina. Desde então a espécie se espalhou e habita onde não deveria existir, como no rio Cuiabá. Por ser onívoro (come qualquer coisa, de lixo a tripa de galinha) é fácil de engordar e ser pego com o peso que o pescador pegou.
História de pescador - A equipe de reportagem foi conferir de perto, se a história era estória. Evaldino, muito modesto, disse que é pescador amador, mas que esse não foi o primeiro peixe grande que pegou. Até o tambacu, seu recorde era outro da mesma espécie, de 11 quilos que pegou sozinho.
Dessa vez, precisou de ajuda do amigo Gonçalo e lutou por uma hora. "Começamos a pescar logo depois do almoço e lá pelas 4 da tarde a gente já estava com ele (tambacu) na linha. Até assustamos, pensando que fosse um monstro!". Mas, pelo sorriso largo, dá para ver que o esforço valeu a pena. O peixe foi banquete para 40 pessoas de uma pousada próxima, no sábado.
Evaldino, que tirou foto do peixe após a pescaria, disse acreditar que este exemplar era tão grande porque deve ter entre 15 e 18 anos. É velho. Segundo pensa, o tambacu deve ter ido para o rio na grande enchente de 1995. O exemplar, embora grande, foi pego com uma pequena isca de gafanhoto. A mesma que o pescador garante que pegou um dia antes 2 pacus de 4 quilos.
Ao ouvirem o que Evaldino narrava à reportagem, outro pescador se aproximou e quis também contar de suas façanhas com pacus de 50 quilos. Mas essas são outras estórias... de pescador.
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