Lula admite reduzir orçamento de ministérios com efeitos da crise
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta terça-feira que, caso a crise financeira mundial atinja o Brasil com mais força, poderá haver corte dos investimentos da União previstos nos orçamentos dos ministérios. A declaração foi feita durante discurso realizado em São Paulo, no evento de comemoração dos 60 anos do SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
"Eu não posso assumir o compromisso com vocês de que se houver uma crise econômica que abale o Brasil a gente vai manter todo o dinheiro em todos os ministérios. Até porque se a União arrecadar menos, vai ter menos dinheiro para dividir com todo mundo. Só que a gente não pode vender ilusão aqui", afirmou Lula.
O secretário-adjunto da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, disse nesta terça-feira que o crescimento da arrecadação neste ano pode ficar abaixo dos 10% previstos pelo governo até o mês passado. Ele também afirmou que os efeitos da crise econômica sobre os resultados de 2009 já preocupam o governo.
O presidente também ressaltou a participação dos países emergentes nas ações anticrise. "É importante ter em conta que essa crise pode chegar ao Brasil muito mais leve que nos países de origem. [...] Mas quem está dando solidez à economia mundial são os países periféricos: Brasil, China, indica, África, os países da América Latina, entre outros."
Lula voltou a afirmar que o país não terá pacote econômico. "Não vamos fazer nenhum pacote econômico na expectativa de que as medidas que já nos foram apresentadas dêem resultado", disse, em referência aos pacotes apresentados pelos Estados Unidos e por governos da Europa.
Nesta segunda-feira, porém, o governo anunciou novas medidas de crédito para aliviar os efeitos da crise. A agricultura ganhará mais R$ 2,5 bilhões, e a construção civil deve receber entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões.
Na SBPC, ele destacou ainda do fortalecimento do Estado no sistema financeiro. "Até o Bush está falando em comprar ações dos bancos privados, ou seja, significa que o coração do regime capitalista começa a ter gostinho pelo papel do Estado, que esteve desmoralizado nos últimos trinta anos e agora volta a ser peça importante"
Em tom de brincadeira, o presidente comparou o papel do Estado à relação entre pai e filho. "Quando um filho adolescente vem atrás do pai? Quando está sem dinheiro ou quando está doente. Ou seja, o mercado que poderia resolver tudo e nos últimos trinta anos ditou regras para a sociedade, no primeiro fracasso, para quem eles recorrem? Ao paizão que é o Estado. Obviamente que eu acho que o Estado tem que ajudar a resolver o problema. E acho que a saída de não dar dinheiro para banco, mas comprar ações do banco é muito importante. Porque isso permite que o Estado volte a exercer o papel de influência sobre o sistema financeiro internacional, que não tinha nenhum controle", disse.
"Aqui no Brasil nós estamos com as instituições públicas muito fortalecidas: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES. Portanto, estamos comprando carteira em bancos de investimentos que tiveram problemas e vamos comprar mais", afirmou Lula.
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