Aumenta pobreza em países ricos, diz OCDE
Um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta terça-feira, em Paris, adverte que se acentuaram a desigualdade social e a pobreza em 75% dos seus países membros nos últimos 20 anos. Entre os países onde essa disparidade aumentou mais significativamente, destacam-se os Estados Unidos, o Canadá, a Alemanha, a Itália e a Noruega. Encabeçam a lista dos países mais desiguais o México e a Turquia.
O estudo aponta que as desigualdades aumentaram de 7% a 8% em relação aos anos 1980, e a quantidade de pobres de 9,3% para 10,6% no conjunto da população.
A organização alerta para a necessidade de os governos intensificarem as medidas sociais para que os efeitos da crise econômica vivida atualmente não sejam devastadores para as classes menos favorecidas.
"Eu asseguro que foi uma coincidência este relatório ter ficado pronto justamente agora, nós não tínhamos previsto essa crise. Mas, o fato é que os resultados deste estudo serão de uma grande importância na decisão das medidas a serem adotadas a partir de agora", disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.
O relatório afirma que o crescimento econômico verificado a partir da década de 1990 e proporcionado à custa do livre mercado acabou gerando um maior enriquecimento dos que já eram ricos e uma menor mobilidade social, ou seja, os pobres continuaram pobres ou ficaram ainda menos favorecidos.
Outra conclusão é que dos países em desenvolvimento que integram a organização, a Índia e a China, não fazem parte daqueles onde as desigualdades aumentaram. Nestes lugares, a mobilidade social foi maior, o que comprova o efetivo desenvolvimento em relação há 20 anos.
A organização identificou as possíveis soluções para os problemas de desigualdade e pobreza nos 30 países-membros. As principais são o aumento dos auxílios financeiros estatais a fim de proporcionar uma renda mínima em cada lar e o incentivo ao emprego − simultaneamente ao desestímulo às ocupações temporárias e precárias, através de impostos mais altos para os empregadores, nestes casos.
"As desigualdades estão emperrando o crescimento de todas as nações. As desigualdades levam à polarização da sociedade e aumentam as tensões sociais e as medidas econômicas como protecionismo, que não são favoráveis ao liberalismo econômico", explicou Gurría, que tinha ao lado o vice secretário-geral da organização, Aart de Geus; o diretor de Emprego, Trabalho e Políticas Sociais, o alto-comissário para as Solidariedades Ativas contra a Pobreza francês, Martin Hirsch; e o economista Anthony Atkinson.
Em média, os 10% mais pobres das populações dos países da OCDE têm de sobreviver com uma renda de US$ 6 mil ao ano, enquanto que os mais ricos têm até 11 vezes mais do que isso, como é o caso da Itália. O número de trabalhadores pouco ou não qualificados é uma das causas apontadas para a discrepância nos números, além do aumento no número de famílias sustentadas por apenas um cônjuge, casos em que a probabilidade de se tornar pobre é de 33%.
A boa notícia é para a população aposentada, que viu seus rendimentos aumentarem na maior parte dos países. Por outro lado, um péssimo indicativo é o aumento da pobreza das crianças. "Uma criança pobre será muito provavelmente um adulto pobre, a menos que o Estado tome as medidas necessárias de amparo social para evitar esse futuro", analisa o francês Hirsch.
Segundo o relatório, a probabilidade de uma criança ou adolescente de permanecer na pobreza se eleva em 25% em comparação ao resto da população, embora no decorrer do período do estudo os gastos em proteção social pelo conjunto dos países tenham aumentado três vezes.
Atkinson, economista da Universidade de Oxford, que auxiliou na elaboração do documento de 345 páginas apresentado nesta terça, diz ser preciso tomar as lições do passado para não repetir os mesmos erros.
"Muita gente tem comparado a atual crise com aquela vivida em 1929. É preciso lembrar, então, que na década de 30 o presidente Roosevelt desenvolveu o New Deal e salvou a economia."
Para o pesquisador, ainda não é possível fazer previsões sobre os efeitos da crise nos países mais pobres. "Crescimento desigual será igual a recessão desigual? Infelizmente, ainda não tenho essa resposta. Mas, uma coisa é certa: as perspectivas não são as melhores para aqueles que se encontram na margem do desenvolvimento."
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