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Saúde
Segunda - 20 de Outubro de 2008 às 08:19

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Quem não sabe a hora de parar diante de uma mesa farta talvez possa pôr a culpa pelo apetite -- e pelos quilos a mais decorrentes dele -- em microscópicas "fechaduras químicas" do cérebro. Pesquisadores americanos demonstraram que uma área crucial do órgão é menos ativa diante de alimentos saborosos, graças à relativa falta de receptores de dopamina, uma molécula mensageira ligada ao prazer, inclusive o de comer. Trocando em miúdos: os obesos parecem comer mais para compensar o prazer menos intenso que obtêm com a comida.

O trabalho, publicado na prestigiosa revista especializada "Science" , também mostrou que há um componente genético nessa equação. A escassez de receptores de dopamina está associada ao chamado alelo A1, variante de um gene que leva a um comprometimento da sinalização de dopamina no cérebro. As pessoas que carregam essa variante de DNA correm risco aumentado de se tornar obesas. "Nós vimos essa correlação no nosso estudo, e vários outros trabalhos também a mostraram em várias populações, então é um achado bastante consistente", declarou Eric Stice, coordenador do estudo, que trabalha no Instituto de Pesquisas do Oregon (Costa Oeste dos EUA).

A pesquisa examinou a ativação de uma área específica do cérebro, o estriado dorsal, ligada à sensação de recompensa que deriva do consumo de um alimento altamente saboroso. O protocolo de pesquisas era simples: dois grupos do sexo feminino (43 universitárias e 33 adolescentes) passaram por aparelhos de ressonância magnética enquanto bebericavam milk-shake ou uma solução sem gosto, parecida com saliva. "Nós só estudamos mulheres porque aproveitamos uma pesquisa sobre desordens alimentares para realizá-lo, e esse tipo de problema afeta principalmente o sexo feminino", explica Stice.

A ressonância magnética mede, na verdade, o fluxo de sangue no cérebro, correspondente à atividade mais ou menos alta de determinada região do órgão, mas os pesquisadores afirmam que há uma ligação forte entre esse fluxo e a presença de dopamina. E o que eles viram é que o estriado dorsal é menos ativo nas pacientes obesas diante de um saboroso milk-shake -- e apresenta atividade ainda menor nas que carregam o alelo A1. Para todos os efeitos, é como se o cérebro delas registrasse de forma mais fraca a satisfação ligada à bebida.

Complicações

Na verdade, porém, ainda não é possível determinar se a resposta enfraquecida do estriado dorsal é a causa da alimentação desregrada que leva à obesidade ou uma conseqüência de uma dieta abusiva. Ou algo ainda mais complicado, diz o pesquisador do Oregon.

"De fato, nós achamos que a reação enfraquecida à comida surge, em parte, por causa do excesso de comida rica em gordura e açúcar, pelo que se vê em experimentos com animais. Mas também achamos que se trata de um ciclo vicioso, que vira uma espiral crescente. Quanto mais você exagera na comida, mais fraco se torna o prazer experimentado com a alimentação, o que pode levar você a aumentar ainda mais a quantidade de comida", avalia Stice. Uma maneira de testar isso de forma mais precisa seria estudar grupos de pessoas magras num momento, esperar meses ou anos, ver quais delas começou a engordar e então comparar os resultados anteriores com os mais recentes.

O achado traz, obviamente, o potencial tanto para prever quem tem mais chance de se tornar gordinho quanto de pensar em intervenções farmacológicas que possam dar uma forcinha à dopamina no estriado dorsal.

A pergunta que não quer calar é: porque algumas pessoas carregam o alelo A1, para começo de conversa? Será que ele foi benéfico ao longo da evolução humana, favorecendo os que tinham apetite mais voraz e, portanto, eram mais adaptados a armazenar reservas de gordura nos (poucos) anos de fartura? "Acho que você poderia argumentar que o A1 tem alguma vantagem evolutiva, porque está associado a um grande número de fatores, como a busca de sensações, que podem ajudar na sobrevivência. Mas ainda não examinei o assunto suficientemente bem", diz o pesquisador.





Fonte: G1

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