Sucata vira material nas escolas de Rondonópolis
A Prefeitura de Rondonópolis mantém e dá suporte a diversos projetos escolares que despertam nas crianças o desejo sincero de freqüentar as aulas e que contribuem para diminuir a evasão escolar. E isso acontece em todos os níveis, desde as unidades de educação infantil até as escolas de ensino fundamental. Um exemplo disto pode ser visto na prática, na Unidade de Educação Infantil Mãe Margarida, no bairro Vila Rica, uma das regiões mais carentes da cidade.
Um lugar onde escutamos frases como, “as pessoas são todas iguais”, “temos que respeitar as crianças negras ou com deficiência”, “temos que ter respeito e brincar com todas as crianças”, ditas por meninos e meninas de 3 a 5 anos que freqüentam a primeira fase do segundo agrupamento da creche.
Tendo que lidar com crianças carentes em todos os sentidos, as professores Elenice Moura e Ângela Ferron tiveram a idéia de utilizar brinquedos para educar os pequeninos em vários aspectos. “O objetivo é mostrar que os brinquedos quebrados ou não, podem ajudar as crianças a lidar com as diferenças, com os sentimentos e a descobrir o próprio corpo”, disse “tia” Elenice, como é chamada pelos alunos.
Uma boneca sem braço aqui, outra cabeça ali, fez surgir o projeto de inclusão social, em que as crianças aprendem, brincando, a driblar preconceitos de cor, deficiência física e condição social. O que era sucata passou a ser material didático.
Os brinquedos quebrados foram reformados de forma que não voltassem ao modelo, mas fossem adaptados para que as professores pudessem utilizá-los no projeto de forma coerente. Outros foram fabricados propositadamente “diferentes” para que as crianças pudessem perceber a “deficiência”, mas não rejeitar o brinquedo.
Uma boneca sem braço passou a ser tratada como uma criança portadora de necessidades especiais, mas nem por isso, uma pessoa diferente deve ser discriminada. Há também os bonecos portadores de deficiência visual, os que precisam usar óculos, os negros, os que têm lágrimas nos olhos porque estão tristes e todos são tratados como iguais, embora sejam “diferentes”.
A experiência é vivenciada na prática dentro mesmo da sala onde uma das crianças tem seis dedinhos. Os coleguinhas já perceberam a diferença, mas de forma nenhuma o tratam como desigual. E os resultados são levados para fora da sala. Quando “tia” Elenice ou “tia” Ângela levam os pequenos para passear pelo bairro, os moradores com deficiência são vistos de forma natural. “Os alunos já não percebem as diferenças e embora identifiquem, não discriminam a pessoa portadora de necessidade especial, e isso é satisfatório para nós professoras, sinal de que estamos alcançando nosso objetivo”, disse a professora Elenice.
Com os bonecos as professoras também trabalham as diferenças entre meninos e meninas e todos aprendem a conhecer o próprio corpo de maneira geral, cabeça, tronco e membros. Aprendem também a se vestir, pois são eles que trocam os bonecos, escolhem as roupas, que é também uma maneira de definir a personalidade e demonstrar as preferências.
O projeto de inclusão foi implantado este ano, mas já é sucesso na rede municipal de educação infantil, e isso pode ser comprovado com os próprios alunos. Quando questionado sobre os tratamentos com as crianças negras, Breno Caetano da Silva, de 5 anos, responde que elas devem ser tratadas com respeito e que brinca com elas normalmente. Já Jonathan Augusto Gonçalves de Paula, de 4 anos, diz que os portadores de deficiência são diferentes, mesmo assim brincaria com eles. Nélison Júnior Ferreira, também de 4 anos, reforça as respostas dos colegas e diz que “devemos respeitar todas as pessoas, porque todas são iguais”.
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