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Economia
Quinta - 16 de Outubro de 2008 às 08:24
Por: Reinhard Ramminger*

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Do noticiário recente em relação à crise no sistema financeiro internacional pode-se pinçar alguns fatos: a penúria no mercado imobiliário americano é duradoura e os efeitos da ajuda governamental devem produzir resultados palpáveis somente a partir do final do próximo ano; a desaceleração da economia mundial, - portanto, Brasil no meio – já observável em 2008 e deve persistir em 2009, quando, então, presume-se que adaptações dos mercados e ações dos governos reconduzam a economia a uma recuperação gradual; os preços das commodities devem manter-se baixos, com perspectivas de estabilização apenas a partir de 2010, e as possibilidades de obtenção de financiamentos permanecerão difíceis; o crescimento da economia mundial deverá ser tímido: 3,9% em 2008 e 3% em 2009, o menor nível em sete anos; as estimativas de crescimento do PIB brasileiro são, ainda, de 5,2% em 2008, com previsão de queda para 3,5% no próximo ano. Enfim, temos um panorama que requer cautela, com especial repercussão para o nosso Estado. Por que?

Simplesmente porque Mato Grosso é mais vulnerável do que o Brasil em relação às principais conseqüências da crise, pois a economia estadual está fortemente inserida e alicerçada no comércio internacional. O valor das exportações, que em 1994 correspondia a 8,4% do PIB, representa atualmente em torno de 32%, enquanto que para o Brasil a razão exportações/PIB é de aproximadamente 13%. Em nossa pauta predominam commodities, cujos preços, conforme já mencionado, ficarão achatados. Em anos recentes, soja (especialmente grãos), carnes (principalmente bovina) e algodão representaram mais de 90% das vendas totais. A curto e médio prazo, não há perspectivas de alterações nesse quadro.

Quanto às importações, elas vêm crescendo de ano para ano. Entre 1992 e 2006 seu aumento nominal médio anual, em Mato Grosso, foi de 21,32%, muito superior ao crescimento médio do PIB, de 9,77%. Os principais componentes da pauta de importações (70% a 80% do valor total) são insumos agrícolas. Aí é novamente inevitável temer-se o pior, pois crédito apertado e caro, combinado com elevação do dólar, significa aumento de custos para a produção agrícola. Isso sem mencionar as mazelas do crônico endividamento do setor, situação que vem sendo “empurrado com a barriga”, sem uma solução definitiva.

Em resumo, a corrente de comércio (somatório das exportações e importações) de Mato Grosso apresenta um desempenho crescente nos anos recentes, correspondendo atualmente a aproximadamente 35% do PIB. Essa forte inserção no mercado internacional, normalmente considerado salutar e desejável numa economia, transforma-se neste momento em preocupação para Mato Grosso, pois mais de um terço da economia local busca e depende de insumos cada vez mais caros e mais difíceis de serem adquiridos, para produzir mercadorias cujos preços tendem a manter-se baixos.

Torna-se, pois, imprescindível que o governo não subestime esse quadro e fique atento para promover ajustes em seu planejamento, sob risco de enfrentar dificuldades para manter o nível de crescimento do seu PIB.

* Reinhard Ramminger é Economista, Mestre em Economia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Ex-secretário de Estado de Agricultura e Assuntos Fundiários de Mato Grosso. Gestor Governamental lotado na Assessoria de Pesquisa Econômica Aplicada junto à Secretaria de Estado de Fazenda de Mato Grosso.





Fonte: Secretaria de Fazenda de Mato Grosso

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