Associação antipirataria trava guerra contra comunidade de 755 mil no Orkut
Uma guerra silenciosa, travada nos bastidores da principal rede social do país, preocupa internautas que baixam música pela internet. O Orkut, braço do Google que neste ano passou a ser chefiado por uma equipe brasileira, começou a deletar pedaços da sua maior comunidade dedicada a compartilhamento de arquivos MP3, a "Discografias".
O endereço existe desde 2005, conta com três administradores anônimos (Madruga, Cris e Chris) e abriga 755 mil participantes cadastrados --o número de pessoas que a utiliza efetivamente é bem maior, já que para acessar seu fórum não é preciso de inscrever. Ali, internautas compartilham links com álbuns musicais inteiros sem pagar nada. A organização e o volume de material fez com que o endereço se tornasse uma central para quem procura esse tipo de conteúdo na rede brasileira.
"É o nosso principal cliente. Em se tratando de música, ninguém tem mais arquivos que violam direitos autorais do que a 'Discografias'", diz Edner Bastos, coordenador antipirataria da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música), entidade que defende a propriedade intelectual.
Os moderadores da "Discografias", que passam mais de cinco horas por dia trabalhando no fórum, impõem regras rígidas, inclusive banindo usuários mais insistentes. As proporções levaram à criação de comunidades satélite, que servem de apoio para a principal. Na "Discografia - Pedidos", por exemplo, os usuários podem dizer o que querem baixar. Isso ajuda a não abarrotar o índice da comunidade "mãe" --onde entram apenas tópicos os com o caminho do download.
Hidra
No primeiro semestre deste ano, a APCM tirou do ar 118.750 links de filmes e músicas, 22.113 blogs e 20.332 arquivos P2P ("peer-to-peer", referentes a programas de compartilhamento como eMule) da internet. Seu principal rival, no entanto, continua de pé.
"Estamos com várias discussões com o Google, em alguns pontos eles nos ajudam", afirma Bastos. "Temos um trabalho para tirar [a comunidade "Discografias"] do ar, mas ela é muito complexa. É preciso pegar tópico por tópico para provar que todo aquele conteúdo é ilegal."
A exclusão de algumas páginas dentro da comunidade já foi sentida pelos internautas. Em uma nota divulgada na quinta-feira passada, os moderadores da "Discografias" afirmaram que "tópicos continuam a sumir e não são devolvidos. Depois que a administração do Orkut passou para o Brasil, a coisa tem piorado muito".
"Tiramos [o tópico] quando está constatado algum tipo de violação num link específico", afirma Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google no país. Nestes casos, o Google considera primeiramente a "liberdade de expressão", diz ele. "A comunidade é legítima, porque há discussão de música também. Além disso, você sabe, a gente deleta uma, eles criam outra."
A Folha Online entrou em contato com a moderação da comunidade. Sem se identificar, aceitaram responder à reportagem sobre seu trabalho na rede social.
"Muitas bandas, hoje, tanto no Brasil quanto no exterior, assumem que não fariam sucesso se não fosse a internet. Até o Presidente da República deu uma declaração favorável na semana passada sobre 'baixar músicas da internet'. Ilegal e pirataria, na nossa opinião, é a venda de CDs piratas", afirmam.
Segundo eles, o trabalho na Discografias é um "ótimo hobby". Mesmo sob pressão, não cogitam fazer um blog ou outro tipo de fórum --só se o Google fechá-los de vez.
"É certo que muita gente só está no Orkut pelas poucas comunidades úteis e bem organizadas que sobraram, tais como a 'Discografias' e algumas outras. Com o seu fim, pensamos que o movimento no Orkut cairia consideravelmente", apostam.
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