Presídio em Mato Grosso vira condomínio popular
Em Mato Grosso, um presídio agrícola se transformou em um condomínio popular. Mulheres e crianças moram com os presos. Tudo custeado pelo sistema carcerário. A dona-de-casa Conceição Figueiredo mora em uma casa humilde, como a de tantos brasileiros. Todos os dias, o marido dela, Domingos Figueiredo, encontra a mulher depois do trabalho na roça.
As semelhanças com a vida de outras famílias brasileiras termina aí. A casa de Domingos e Conceição fica dentro de um presídio. Domingos cumpre pena por homicídio. Eles estão casados há um mês.
"Abandonei tudo, meu serviço por amor a ele, e, agora, nós estamos vivendo muito bem", conta Conceição.
“A gente casa, então, é uma responsabilidade. Uma mudança de vida”, afirma Figueiredo.
O presídio agrícola das Palmeiras, que funciona em regime semi-aberto, fica a 100 quilômetros de Cuiabá, em Santo Antônio de Leverger.
Os presos trabalham na lavoura e cuidam do gado. Três dias de serviço valem um a menos na pena. Os detentos só saem daqui com autorização, não podem dormir fora da unidade.
Dos 21 presos, oito são casados e vivem com a família. Os moradores mudaram a rotina e hoje o presídio agrícola parece um condomínio popular. Entre os muros do presídio, há igreja, creche e escola. Francisco Alves dos Santos está preso há dois anos. Com ele, mora o filho, que chegou bebê e está crescendo dentro do presídio. Faltam dois anos e meio para a pena terminar e a família sair do local.
"Melhor do que no fechado, lá você não vê o seu filho crescer. Aqui não, estou com a esposa e o filho", conclui Santos.
Os presos gostam da convivência familiar. O Ministério Público não. Já pediu à Justiça a interdição do presídio por causa das da presença de famílias e de condições precárias de moradia. A gestão penitenciária de Mato Grosso estuda um termo de ajustamento de conduta para evitar o fechamento.
“A família deveria ser retirada do local, porque a obrigação do Estado é promover a custódia e segurança dos reeducandos”, diz o superintendente de Gestão Penitenciária de Mato Grosso, Airton Benedito de Siqueira Júnior.
Esta é uma situação não prevista pela legislação. A lei de execuções penais não prevê a moradia da família em colônias penais, mesmo assim o diretor do presídio, Antônio Capistrano, não vê problema.
"Para mim, a família é a grande força para ajudar na ressocialização", fala Capistrano.
Cada preso custa em média R$ 1300 para o estado, mas a conta não inclui os gastos com mulheres e crianças. Parte da comida das famílias vem do trabalho dos presos na colônia e o restante é entregue pelo governo. Mães e filhos andam livremente dentro e fora do presídio. Já os detentos se limitam à área interna. Sem pagar água, luz e aluguel, a dona-de-casa Maria da Silva só pensa em sair quando o marido ganhar a liberdade.
"Eu prefiro morar aqui perto do meu marido mesmo”, afirma Maria.
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