Presidente do STF foi grampeado pela Abin, diz Veja
Brasília - Reportagem publicada nesta semana pela revista "Veja" mostra que os serviços de espionagem federais ultrapassaram todos os limites de respeito à Constituição e à democracia e instalaram grampos telefônicos ilegais nos aparelhos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, como já se suspeitava. A "Veja"atribuiu os grampos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
De acordo com informações passadas por um agente da Abin à revista, também foram grampeados o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Álvaro Dias (PSDB-PR), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Tião Viana. Outras vítimas dos grampos foram os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, além de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não há detalhes das conversas deles capturadas pelo serviço de espionagem.
A prova de que Gilmar Mendes foi mesmo vítima de grampo é a transcrição de uma conversa de cerca de dois minutos entre ele e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), ocorrida às 18h32 do dia 15 de julho. No telefonema, Demóstenes pede a Gilmar ajuda contra a decisão de um juiz de Roraima que teria impedido uma importante testemunha de depor na CPI da Pedofilia, da qual é relator.
No diálogo, Mendes agradece a Demóstenes, por ter subido à tribuna do Senado para criticar pedido de impeachment do presidente do STF, feito por um grupo de promotores descontentes com habeas corpus concedido ao banqueiro Daniel Dantas. Na época, a PF acabara de concluir a Operação Satiagraha, que prendera Dantas, acusando-o de uma série de crimes, entre eles lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção ativa.
De acordo com a "Veja", as gravações ilegais feitas pela Abin servem de base para relatórios que são entregues ao presidente da República. Isso - ressalva a revista - não quer dizer que o presidente Lula tenha conhecimento de que seus principais assessores estejam grampeados ou que avalize a operação. Os agentes produzem as informações a partir do que ouvem nos grampos, mas sem identificar a origem.
Também é esclarecido que, por serem ilegais, as gravações são destruídas depois de filtradas. A que contém o diálogo entre o ministro Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres teria sido preservada porque, ao contrário das demais, foi produzida durante um trabalho de parceria entre a Polícia Federal e a Abin, na Operação Satiagraha. Os investigadores desconfiavam de uma suposta influência do banqueiro nas decisões do STF e passaram a vigiar o presidente da corte.
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