Imposto põe gasolina brasileira entre as mais caras do mundo
Brasil e Japão, grande importador de petróleo, ocupam a mesma faixa de preço por galão, de US$ 6 a U$ 6,99. O combustível no país só não é mais caro do que em alguns países europeus e em mais cinco de outros continentes.
Nos EUA, onde as recentes altas no preço do galão são alvo de protestos e tema crucial nas eleições presidenciais, o produto está três faixas de preço abaixo.
No fim de julho, quando o levantamento foi feito, o galão era vendido nos postos americanos por US$ 3,96 --mas já foi vendido a mais de US$ 4 durante várias semanas do ano. No vizinho de baixo, o México, o preço é de US$ 2,62. No de cima, o Canadá, é de US$ 5,23.
Nas Américas, aliás, Uruguai e Haiti são os únicos países com preço na mesma faixa da brasileira. A gasolina mais barata do mundo é vendida na Venezuela. Com produção própria e subsídios do governo, o consumidor paga US$ 0,12.
O preço da gasolina no Brasil é mais caro do que em muitos outros países por causa da carga tributária, explicam os especialistas. "Como os impostos representam cerca de 50% do preço na bomba, se tirássemos os tributos, a gasolina aqui estaria abaixo do verificado em muitos outros lugares", afirma Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Hoje, o preço médio do litro da gasolina comercializada no Brasil é de R$ 2,50, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (o preço de referência da pesquisa da Airinc é São Paulo). Desse total, só ICMS, Cide, PIS e Cofins respondem por R$ 1,14.
Nos países da Europa, a carga tributária é ainda maior: cerca de US$ 1,20 por litro. Entre os países da América do Sul, os impostos representam bem menos: US$ 0,40 por litro no Chile e US$ 0,30 na Argentina
"Além da enorme carga tributária, o governo brasileiro usa o preço da gasolina como instrumento de política monetária. Ou seja, ajuda no combate à inflação", diz Fábio Silveira, da RC Consultores.
Exatamente porque auxilia o governo federal no controle da inflação, o preço da gasolina acompanha só parcialmente as cotações do petróleo no mercado internacional. Após quase três anos de congelamento (e, nesse período, com uma escalada vertiginosa do preço do petróleo), o último reajuste doméstico ocorreu em maio.
Mas o consumidor brasileiro praticamente não sentiu no bolso o aumento --que, para as refinarias, foi de 10% no caso da gasolina e de 15% no óleo diesel. Isso porque, ao mesmo tempo em que o reajuste foi efetivado pela Petrobras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma redução da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), o chamado "imposto dos combustíveis".
A alíquota da Cide sobre a gasolina caiu de R$ 0,28 para R$ 0,18 por litro. No diesel, a redução foi de R$ 0,07 para R$ 0,03. É por meio desse imposto que o governo federal "administra" o preço da gasolina no mercado interno.
Caso o reajuste fosse repassado integralmente para o consumidor, o aumento da gasolina teria forte impacto nos índices de inflação --que então registravam trajetória de forte alta e ameaçavam a política monetária executada pelo Banco Central.
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