Ronaldinho chora e passa a noite sem dormir
São 3h de quarta-feira em Pequim. No restaurante da Vila Olímpica às moscas, um brasileiro está sentando, contemplando o nada enquanto enxuga as últimas lágrimas de uma interminável noite. O brasileiro em questão é nada menos do que o superastro Ronaldinho.
O motivo da desolação começou quatro horas antes, quando a Argentina ainda comemorava em campo a contundente vitória por 3 a 0 sobre o Brasil. Com o fim do sonho pelo inédito ouro olímpico, o capitão não suporta o naufrágio. Líder do time, Ronaldinho chora ainda no gramado.
Totalmente abatido ao deixar o campo, o jogador é sorteado mais uma vez para o antidoping. Na sala do exame, desabafa. "Assumo a responsabilidade para reerguer este time", repetia o jogador, que vive mais uma decepção olímpica - a primeira foi em Sydney 2000.
Três horas depois de entrar na sala do exame antidoping, Ronaldinho enfrenta mais um calvário. Encara a mídia brasileira e internacional. Diante de dezenas de microfones e câmeras, diz ainda não acreditar no que está acontecendo. Prevê uma noite longa. E acerta em cheio.
A mesa do esvaziado restaurante da Vila Olímpica é dividida com Rafael Sóbis, que - com o cotovelo machucado -, conforta aquele que por duas vezes foi o melhor jogador do mundo. Não adianta.
Entre um olhar perdido e outro, Ronaldinho vê passar à sua frente funcionários do restaurante e voluntários da organização. É convidado a tirar fotos. Não recusa, mas não desfruta.
O dia amanhece em Pequim e Ronaldinho não prega o olho. Malas prontas, é hora de mais uma viagem, desta vez para a disputa da medalha de bronze em Xangai. O jogador só consegue cochilar às 11h45, durante o vôo na espremida classe econômica.
Na chegada ao aeroporto de Xangai, não há o tradicional pagode. O tan-tan, tão utilizado nos trinta dias de concentração em Cingapura, no Vietnã e na China, repousa nas mãos do atacante Jô. Ronaldinho não quer saber de música. Fãs tiram fotos antes de o jogador sair de cena para tentar dormir.
Ronaldinho chegou aos Jogos de Pequim com status de estrela, mas, ao contrário de outros monstros sagrados da Olimpíada - como Michael Phelps, Roger Federer e Yelena Isinbayeva -, voltará sem o ouro para casa mais uma vez. Resta a decisão da medalha de bronze, na sexta-feira, contra a Bélgica.
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