Mato Grosso se orgulha da Universidade da Selva
Em 2004 foi implantado pelo MEC o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que analisa vários aspectos das Instituições de Ensino Superior. Este sistema é complexo e se completa por ciclos. O primeiro ciclo completo de avaliação já está perto de ser concluído para as ciências agrárias e da saúde, para as quais foi divulgado recentemente o conceito preliminar de curso, que é o penúltimo passo da construção do modelo. A última etapa se refere ao conceito preliminar das instituições, que deve ser anunciado até o fim do mês de agosto.
O indicador divulgado na semana passada combina o Enade, o Índice de Diferença de Desempenho (IDD) – que traz o valor agregado dos alunos que ingressam e concluem o curso – e a análise de três variáveis: infra-estrutura, corpo docente e projeto político-pedagógico da instituição. No dia da divulgação dos conceitos, Mato Grosso foi tomado por uma notícia extremamente positiva e foi motivo de referência nas entrevistas do Ministro Haddad e na imprensa nacional: nossa UFMT despontou como a universidade com o maior número proporcional de cursos bem avaliados, além de ter alguns dos melhores cursos do país, não só em Cuiabá, como também nos campi do interior. Isto não é pouca coisa para uma instituição que até cerca de dez anos atrás era considerada periférica nas políticas nacionais por carecer enormemente de infra-estrutura, ter poucos professores doutores, poucos grupos de pesquisa e apenas quatro cursos de mestrado. É difícil decidir a quem ou a que creditar este sucesso, mas posso tentar sugerir um conjunto de fatores de efeito sinérgico.
O compromisso dos professores com sua própria formação e com a implantação de grupos de pesquisa, cujos produtos dão sustentação qualitativa ao ensino e à extensão; o trabalho sério e dedicado de centenas de servidores técnico-administrativos, que realizam atividades cotidianas de gestão ou de apoio técnico em laboratórios, bibliotecas ou outros serviços; o desempenho dos alunos, de grande peso no índice divulgado, revelando o desejo de se tornarem profissionais bem formados para ajudar Mato Grosso a ser cada vez melhor; a efetiva política nacional de fortalecimento do ensino superior atualmente em curso e a parceria presente do Governo do Estado, não com conversas de gabinete, mas com ações concretas de convênios e repasses, obras, fomento à pesquisa, são alguns principais fatores.
Todos são importantes. Merece reconhecimento público o desempenho exemplar do Prof. Paulo Speller, que em outubro deixa a Reitoria de uma Universidade forte e academicamente consolidada. Mas neste momento de festa, comemoração e orgulho, eu, que sou professora daquela universidade, fiquei imaginando a felicidade que deviam estar sentindo aqueles que conceberam a UFMT, tantos anos atrás. Procurei o Prof. Attilio, com quem muito aprendi convivendo na equipe da Reitoria e posteriormente tendo a honra de com ele participar das sessões do Conselho Diretor. Ele me contou que em 1971, reuniam-se em umas das salas do Bloco C do Centro de Humanidades, entre outras pesonalidades, Gabriel Novis Neves, Benedito Pedro Dorilêo, Attilio Ourives, Pedro Paulo Lomba, João Vieira e começaram a bolar uma Universidade "amazônica" que não poderia se enquadrar em modelos organizacionais padronizados.
Nascia naquela sala, chamada depois de "Sala de Parto", a primeira concepção da Universidade da Selva. Foi invocado um cacique Xavante, denominado Ceremecê, que dizia: "ninguém ensina o que não sabe", fazendo nascer também o binômio pesquisa-ensino, hoje tão valorizado. E dali, aqueles cidadãos audaciosos começaram colocar os tijolos da grande obra. Mas o que nasceu de verdade na “Sala de Parto” foi o espírito da Universidade, que se consolidou e foi repassado de Reitor a Reitor, não desviando de seus objetivos. É fato que o espírito da “Sala de Parto” inspira o entusiasmo existente até hoje em toda a comunidade universitária e revive como nunca em momentos como este. Queira Deus que essa chama nunca se apague... Parabéns UFMT!
* Flávia Nogueira é secretária Extraordinária de Apoio às Políticas Educacionais Governo de Mato Grosso
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