Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 10 de Junho de 2013 às 10:44
Por: ISA SOUSA

    Imprimir


Cada vez mais moradores de Cuiabá escolhem as motocicletas como meio de transporte, seja pelo baixo custo, se comparado aos valores de outros veículos, seja pela facilidade de locomoção. O dado negativo do crescimento de motocicletas nas ruas é que os acidentes também aumentaram em níveis proporcionais.


 
Para se ter uma ideia, o Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT) contabilizou até abril deste ano 73.792 motocicletas nas ruas de Cuiabá. O número indica um crescimento de 1.549 emplacamentos, já que 2012 fechou com 72.243 motos. 


 
Com um trânsito caótico por falta de planejamento e estrutura, as motos ainda dividem ruas estreitas e avenidas mal sinalizadas com 180.187 carros e 88.562 outros veículos como ônibus, microônibus e caminhonetes.


 
"Das 500 ocorrências mensais que recebemos envolvidas com o tráfego na Capital, pelo menos 60% são de motociclistas" Atravessando os corredores engarrafados e por vezes com manobras arriscadas, o resultado para os motociclistas se reflete nos atendimentos no Hospital e Pronto-Socorro de Cuiabá: em média, a unidade recebe vítimas de 300 acidentes por mês. 


 
O dado, segundo a médica e diretora-geral da unidade, Iracema Queiroz, significa que os veículos de duas rodas são responsáveis ou estão envolvidos na maioria dos acidentes de trânsito. 


 
“Das 500 ocorrências mensais que recebemos envolvidas com o tráfego na Capital, pelo menos 60% são de motociclistas. Sem dúvida, é um número alto com a possibilidade ainda de crescimento, sem estabilização prevista”, afirmou. 


 
Pós-acidentes 


 
O alto e crescente número de entradas no Pronto-Socorro envolvendo motociclistas é apenas a ponta do iceberg dos problemas decorrentes dos acidentes. 


 
Segundo Iracema Queiroz, a média de internação de um acidentado por moto é superior a 15 dias, número considerado alto. Além do tempo, grande parte acaba afastada das atividades laborais de seis meses a um ano. Isso quando não tem que se afastar de forma permanente. 


 
“O custo social para um acidentado é alto. A maioria dos acidentes é grave, com traumatismo craniano e fraturas de pernas e braços. Grande parte dos envolvidos precisa de próteses e acaba recorrendo ao INSS para se aposentar de forma precoce”, afirmou.


 
Um fato que atesta a análise de Iracema é o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, o DPVAT. 


 
"As doenças ainda dominam, porém o número de acidentados em motos está crescendo a cada ano, com probabilidade de superar o de doenças crônicas" No Brasil, a frota de motocicletas representa pouco mais de 30%. Ainda assim, indenizações pagas pelo seguro chegam a 66%. Dentre os acidentes, 72% acarretam em invalidez permanente, quando não morte. 


 
A respeito do número de motociclistas que foram vítimas fatais, dado do portal Vias Seguras indica que, em 2009, último ano do levantamento, 120 motociclistas morreram nas ruas e avenidas de Cuiabá. 


 
Em relação aos que permanecem vivos, a diretora do Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (Cridac), Lúcia Maria de Campos, aponta para uma estatística cruel e real. 


 
De cada 100 atendidos tanto para reabilitação como para adaptação a próteses, entre 35% e 40% são advindos de acidentes com motocicletas. O índice não supera apenas o de amputados por doenças crônicas como diabetes, hanseníase ou problemas circulatórios. 


 
“As doenças ainda dominam, porém o número de acidentados em motos está crescendo a cada ano, com probabilidade de superar o de doenças crônicas. São jovens e homens em sua maioria, com idade entre 18 e 42 anos”, revelou Lúcia. 


 
Poder e consumo


 
Para a Iracema Queiroz, a realidade vivida hoje pelos motociclistas poderia ser reduzida drasticamente com ações mais efetivas do poder público. 


 
Sem necessidade de apresentar carteira de habilitação para comprar uma moto e com testes razoáveis para se tornar habilitado, Iracema afirmou que a exigência precisa ser maior. 


 
“O processo de habilitação e compra precisa ser revisto. Existem alguns estados, como Goiás, onde a Polícia Militar assumiu a orientação de cursos para motoboys e mototaxistas, os mais prejudicados atualmente, tanto porque por vezes são imprudentes como porque utilizam o veículo como ferramenta de trabalho. Se eles forem melhor capacitados, o número de acidentes reduzirá drasticamente”, afirmou.


 
"É o poder público que tem que dar mais condições de infraestrutura e logística dentro da cidade" Juntando-se o processo facilitado de compra com as parcelas em grande quantidade e em menor preço, o doutor em Logística de Trânsito Eldemir Pereira de Oliveira soma ainda o poder em diversos sentidos. 


 
“Com certeza o boom da classe média, com a facilidade de crédito, permitiu o poder de compra. Aquela pessoa que andava no aperto do ônibus começou a perceber que o valor mensal das passagens era o mesmo que de uma parcela, talvez um pouco maior, e preferiu a moto”, disse. 


 
“Costumo falar, ‘quer conhecer um homem, dê a ele uma moto’. O veículo traz status e poder, que por sua vez deixa extrapolar os limites da racionalidade algumas vezes”, completou. 


 
O maior desafio, segundo Oliveira, continua sendo do próprio Estado.


 
“É o poder público que tem que dar mais condições de infraestrutura e logística dentro da cidade. Hoje vemos uma juventude sendo dizimada por um transporte inseguro. O drama vai continuar enquanto nada for feito”.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/17603/visualizar/