Couro e carne de jacaré precoce sofrem efeitos da alta bovina
A disparada do preço da carne bovina nos últimos 12 meses vem provocando reflexos no valor final de vários alimentos e influenciando também os custos de produção de outros animais. É o caso da criação de jacaré precoce no Pantanal sul-mato-grossense. Como a base alimentar da espécie, em cultivo, é proteína animal (carne bovina), tanto o preço do couro quanto o custo da carne não suportaram um ajuste de quase 100% no valor da arroba do boi em um espaço de um ano e também já estão valendo mais.
De acordo com o médico veterinário e único produtor de jacaré precoce do Brasil, Gerson Bueno Zahdi, só no período entre abril e junho deste ano ficou 30% mais caro produzir couro de jacaré-do-Pantanal precoce, produto extremamente valioso, tanto no mercado interno quanto no externo. “Reduzimos ao limite nossa margem de lucro para tentar manter o mesmo preço do ano passado – R$10,00 o centímetro linear do couro processado, mas isso só é possível hoje para vendas no atacado, ou seja, para encomendas acima de 50 peles”, explicou. Para venda de peças no varejo, o valor final subiu 15% - R$11,50 o centímetro linear.
O couro de jacaré precoce é livre de placas ósseas e 100% aproveitável. “Ele facilita o processo industrial pelas suas características como menor espessura, maior flexibilidade e resistência, o que lhe confere um alto valor agregado, tanto para a indústria quanto para o consumidor final”, garante. Atualmente, o produtor consegue obter mais de 400 peles/mês mas até o final de 2009 Zahdi quer estar colocando no mercado até 1.500 peles/mês.
No caso da carne de jacaré-do-Pantanal precoce – consumida por turistas dentro das fazendas do pecuarista – o custo de produção, só este ano, subiu até 25%. Caso fosse comercializado para o consumidor final o quilo pularia de R$ 40,00 para R$ 50,00 em um raio de até 200 km a partir da região de produção – Pantanal de Miranda/MS.
Zahdi é proprietário das fazendas conjugadas Cacimba de Pedra-Reino Selvagem (226 km de Campo Grande) onde cultiva jacarés precoces, fruto de um trabalho de pesquisa e desenvolvimento genético iniciado há quase 20 anos. Ele estima que – como parte da alimentação dos répteis – utiliza hoje aproximadamente 12 mil quilos de carne bovina/mês. Atualmente conta com um rebanho de 12 mil jacarés, boa parte (precoces) atingindo porte para abate entre 12 e 15 meses de idade. Gerson Zahdi faz a comparação da precocidade de seu rebanho com o desenvolvimento convencional feito no Brasil até então. De acordo com ele, a produção tradicional trabalha com uma idade média de abate em torno de 2,5 anos ou 30 meses
Turismo e gastronomia
O pioneirismo do jacaré precoce trouxe nova fonte de divisas para o pecuarista: o turismo. Além das belezas naturais pantaneiras, quem visita todo o projeto de produção pode interagir com os jacarés (posar para fotos segurando animais), conhecer e manipular as peles curtidas e curadas do animal, ter acesso a material explicativo sobre o cultivo dos répteis, informar-se sobre a viabilidade econômica das peles, e conferir toda atividade produtiva na propriedade. Para aproveitar esta demanda – sobretudo de turistas europeus – a fazenda investiu, entre 2006 e 2007, em uma estrutura de hospedagem com 12 apartamentos.
A cozinha é um detalhe a parte. Os pratos a base de jacaré são um convite ao deleite gastronômico. Da carne do animal precoce só não vai para o prato a cabeça (utilizada, empalhada, como souvenir). Destaques para as “patinhas de jacaré” e “iscas de jacaré” (excelentes tira-gosto), “jacaré ensopado”, "jacarté ao molho de maracujá", o “filé grelhado e flambado” além do exótico “sashimi de jacaré”.
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