Variação genética eleva risco de Aids em africanos, diz estudo
Uma variação genética que protege os povos africanos contra a malária faz com que eles sejam 40% mais suscetíveis à infecção pelo vírus HIV, de acordo com estudo de pesquisadores britânicos e americanos publicado nesta semana pela revista científica Cell Host & Microbe.
A mesma variação também seria responsável por prolongar a sobrevivência dos infectados em aproximadamente dois anos.
Este é o primeiro fator de risco de ordem genética associado exclusivamente a pessoas de ascendência africana a ser identificado.
A descoberta ajuda a compreender as diferenças genéticas que cumprem um papel crucial na suscetibilidade ao HIV e à Aids.
Proteína
Os cientistas analisaram dados coletados ao longo de 25 anos em um outro estudo, que contou com a participação de americanos de diferentes etnias.
"A grande mensagem aqui é que algo que no passado protegia contra a malária hoje está deixando o indivíduo mais suscetível ao HIV", afirma um dos autores do estudo, o professor Robin Weiss, da University College de Londres.
O gene estudado possui o código para uma proteína encontrada na superfície das células chamada DARC.
A variação deste gene, encontrada com freqüência no DNA de descendentes de africanos, faz com que esses indivíduos não expressem a proteína DARC em células vermelhas do sangue.
"Na África Subsaariana, a maioria das pessoas não expressa a DARC nas células vermelhas do sangue, e estudos anteriores mostram que esta variação parece ter evoluído para proteger contra uma forma particular de malária", diz Weiss.
"Entretanto, esse efeito protetor torna os que possuem essa variação genética mais suscetíveis ao HIV", acrescentou.
"Ter essa variação é uma faca de dois gumes", diz o principal autor do estudo, o professor Sunil K. Ahuja, do Centro de Ciência da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. "A descoberta é outra peça valiosa no quebra-cabeças da genética do HIV e da Aids."
Discrepância
Para os autores, o comportamento sexual e outros fatores sociais não explicam totalmente a grande discrepância nos índices de infecção pelo HIV em populações em todo o mundo.
Por essa razão, os cientistas defendem que os fatores genéticos são um campo vital de estudo.
O vírus HIV afeta hoje 25 milhões de pessoas na África Subsaariana, a maior concentração de infectados do mundo.
Cerca de 90% da população da África é portadora da variação genética DARC.
Segundo estimativas, essa variação poderia ser responsável por 11% das infecções na região.
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