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Economia
Segunda - 30 de Junho de 2008 às 20:53

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As matérias-primas, apontadas como vilãs da inflação, estão sustentando o crescimento da economia mundial, segundo o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV (Fundação Getulio Vargas), Aloisio Campelo Jr. No Brasil, setores ligados a agricultura, celulose e metalurgia têm se beneficiado do movimento no cenário internacional.

"A demanda externa não está cedendo tanto quanto esperávamos. Apesar do câmbio, muito desfavorável, há segmentos que estão segurando, como celulose, papéis, metalurgia, todos da área de commodities. As commodities estão sustentando o crescimento da economia mundial, para uma desaceleração mais tênue que a dos Estados Unidos", disse Campelo.

Pesquisa Sondagem Industrial da Indústria de Transformação, divulgada nesta segunda-feira pela instituição, aponta alta de 4,8% no nível de demanda externa em junho deste ano, ante igual período do ano passado, e de 2,8% em relação a maio. Segundo Campelo, a demanda externa passa por um movimento de sustentação --após queda de março a maio, voltou a subir entre maio e junho.

Também cresceu o índice de empresas consultadas que considera a demanda externa forte, para 19% (ante 17% em maio e 15% em junho do ano passado). O percentual que avalia a demanda externa fraca caiu para 10%, em comparação a 11% em maio e em junho de 2007.

Na economia brasileira, os setores ligados à agricultura, como fertilizantes (em meio a temores sobre desabastecimento) e máquinas agrícolas, também têm aproveitado a alta de preços no mercado internacional, disse Campelo. "Há setores que estão aproveitando o dinamismo dos preços internacionais e se preparando para exportar mais. Parece haver sinalização favorável em tratores e fertilizantes", disse o economista.

No sentido contrário, ele apontou o vestuário como um dos que não consegue superar a situação de valorização do real.

Demanda interna

Apesar da reação da demanda externa em junho, é no mercado interno que o quesito mantém performance exemplar. A parcela de empresas que consideram o nível atual de demanda interna como forte aumentou de 31% em junho de 2007 para 34% neste mês (mesmo índice de maio). A proporção das que avaliam a atual demanda como fraca caiu para 5%, ante 8% em maio e 7% em junho do ano passado.

Segundo Campelo, ainda que o desempenho da demanda interna tenha sido positivo em junho, a perspectiva não é favorável do ponto de vista do consumidor.

"O consumidor está menos animado. A inflação é um componente que reduz a disponibilidade de recursos do consumidor. A sondagem da confiança do consumidor aponta cautela em relação a compra de bens duráveis e quanto ao emprego", ponderou Campelo.

Ajustes

Ele disse não considerar, no entanto, um cenário de restrição do consumo, a ponto de afetar a produção.

"A indústria vai ajustando aos poucos. O desaquecimento tem sido moderado e compensado por fatores como expansão do crédito, recomposição da massa salarial e do Bolsa Família. O dinamismo do mercado interno e de setores como construção civil e material de transporte puxam o desempenho na indústria", explicou.

Campelo tampouco manifesta preocupação com o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada), caso a demanda mantenha os atuais patamares.

"O Nuci não indica preocupação. Mesmo com investimento, ele cresceu em junho, mas com estoque equilibrado e realização de investimentos forte, olhando mais adiante, não parece ter comportamento explosivo, embora ainda alto", disse Campelo.

Transportes

O setor de material de transportes (automóveis, caminhões, ônibus, auto-peças e tratores), um dos mais pressionados no nível de utilização da capacidade instalada e em estoque, é um exemplo de que a indústria começa a operar em relativo equilíbrio. "Em junho, material de transportes deu o primeiro sinal de que está menos pressionado. A tendência é desovar o que produzir. Já ajustaram os estoques", disse Campelo.

Dos entrevistados, 2% consideraram os estoques excessivos, 98%, normal, e nenhum considerou insuficiente. Já o Nuci do setor de material de transportes continua elevado, em 93% (ante 92,5% em maio, 93,2% em abril e 92,3% em março) puxado, sobretudo, por caminhões e ônibus. Em junho de 2007, o índice era de 85,8% e a média dos últimos dez anos, de 82%.





Fonte: Folha Online

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