28% dos que recebem Bolsa Família temem passar fome
Ao investigar o grau de segurança alimentar de seus beneficiados, a pesquisa do Ibase mostra que em apenas 17% dos casos eles estavam em situação total de segurança.
Outros 28%, no entanto, enquadravam-se no que se chama de insegurança leve: não passam fome ou deixam de consumir alimentos, mas temem que isso aconteça no futuro. Havia ainda 34% das famílias que se encontravam em estágio moderado de insegurança, ou seja, há restrição de alimentos consumidos, mas não há fome.
Em 21% dos casos, a insegurança alimentar foi considerada grave. "Não é necessariamente uma situação famélica como a que ocorre na África, mas são domicílios onde faltam alimentos em casa e, por isso, nem todas as refeições são feitas", diz Francisco Menezes, coordenador-geral da pesquisa.
Além de investigar a situação de segurança alimentar, a pesquisa afirma também que quase metade (49%) das mulheres que recebiam o benefício disse se sentir mais independente financeiramente. Outros 39% declararam que seu poder de decisão em relação ao dinheiro da família aumentou. O programa repassa os recursos, prioritariamente, às mulheres.
Em alguns casos, a pesquisa registrou que o pagamento do benefício foi o que permitiu à mulher se separar do marido.
"Repassamos os recursos para as mulheres por entender que elas fazem melhores escolhas para beneficiar a família, mas sabemos que essa política acaba tendo reflexos nas relações de gênero também", diz Rosani Cunha, do Ministério do Desenvolvimento Social.
Insuficiente
Apesar de, segundo a pesquisa do Ibase, o Bolsa Família ter impactos positivos na alimentação e não causar "efeito-preguiça", outras pesquisas mostram que uma das maiores dificuldades do programa é não conseguir beneficiar toda a população a qual ele se destina.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2006 mostram, por exemplo, que, naquele ano, mais da metade dos domicílios mais pobres estava fora do programa e que famílias com menor necessidade estavam incluídas, enquanto outras com mais necessidade, não.
Em 2006, de um total de 8,2 milhões de residências que atendiam ao critério de renda do programa naquele ano (rendimento mensal per capita inferior a R$ 120), apenas 47% recebiam o benefício.
A mesma pesquisa mostrava também que o total de domicílios beneficiados naquele ano era de 8,1 milhões, mas que, desses, apenas 3,8 milhões tinham rendimento menor que R$ 120 per capita, o que sugere que uma parte dos domicílios estaria recebendo o Bolsa Família, enquanto outros de menor renda ficavam fora dele.
Na época, a pasta do Desenvolvimento Social alegou que o programa estava em expansão e que, após 2006, muitas famílias foram incluídas e outras que não deveriam estar recebendo haviam sido excluídas.
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