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Terça - 24 de Junho de 2008 às 14:33
Por: Angélica Werneck

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Depois de uma semana de caminhada, cerca de 150 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) concluíram nesta quinta-feira (12) uma marcha de 80 quilômetros pelo interior do Mato Grosso. A mobilização defende a reforma agrária como modelo alternativo ao agronegócio, que concentra renda e terra no Estado.

Os sem-terra saíram no dia 5 de Nova Marilândia (a 391 quilômetros de Cuiabá), com destino a Diamantino (209). No último percurso, de Alto Paraguai à Diamantino, foram 18 quilômentros, debaixo de um sol de cerca de 40 graus, sem qualquer trecho de sombra. A marcha parou rapidamente apenas duas vezes para que os militantes tomassem água. O passo firme foi mantido durante todo o tempo. Na chegada em Diamantino, os sem-terra demonstravam cansaço físico, mas reafirmaram a luta por reforma agrária. Outras bandeiras levantadas pela mobilização foram energia elétrica mais barata e por desmatamento zero dentro da floresta amazônica (Leia mais: Governo Lula cede à pressão dos ruralistas). Também participaram da marcha integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Personagens

O mais velho na caminhada, Antônio Ferreira, de 68 anos, seguiu o tempo todo no mesmo passo da maioria. "Não posso abandonar os companheiros", afirmava, sem parar de andar. O idoso já está assentado, mesmo assim entende que ainda não está feita a reforma agrária no Brasil.

Já o mais novo na marcha, de 2 anos, Vítor Gustavo, viajava na traseira do carro de som, chupando uma chupeta vermelha e com uma fralda na cabeça, como tentativa de proteção ao sol inclemente. Além dele, há mais três crianças na atividade, entre 10 e 12 anos. A mãe de Vítor Gustavo e de outras duas crianças que ficaram em casa, Ângela Cristina Alves, 33 anos, já fez outras caminhadas e fez inclusive a marcha do MST para Brasília, que foram mil quilômetros à pé. "Caminho sempre tranquila, firmo a mente, porque acredito que isso é necessário. No primeiro dia é mais difícil, depois a gente impõe o ritmo".

Desde o início da marcha, Patrícia de Oliveira, a "Fia", 34 anos, não pensou em qualquer momento em desistir. Ela mora no Assentamento Antônio Conselheiro, em Tangará da Serra. "Minha luta em primeiro lugar foi por um pedaço de terra, mas eu já sou assentada há 10 anos e percebi que além da terra a gente precisava de outras coisas para viver bem e para isso a reforma agrária tem que acontecer". Para ela, a caminhada, mesmo que em rincões, vai dando visibilidade às populações das pequenas cidades por onde a marcha passa. "Estamos sendo muito bem recebidos, e por onde passamos fizemos vários debates sobre o agronegócio, etanol, crise do alimento, reforma agrária, e achamos que estamos alcançando nosso objetivo que é discutir política com o povo. Casada, mãe de dois filhos, os quais deixou com o marido, ela diz que militar, para a mulher, é coisa mais difícil. "A luta não é fácil e para nós, mulheres, fica ainda um pouco mais complicado. Mas há muita solidariedadade e companheirismo e o movimento é muito organizado. A gente vai levando, porque vale à pena".

Filmes e futebol

Na noite anterior à saída de Alto Paraguai (219), uma cidade com ares da abandono após a queda do período do garimpo, na beira do rio Paraguai, no acampamento dos militantes, o movimento exibiu dois filmes, em um quiosque de palha, e depois o pessoal assistiu ao jogo Corinthians contra o Sport.

Após a noite fria, favorecida pelo rio Paraguai, e um céu estrelado, iluminado pela lua crescente, às 6h30 da manhã, militantes quebravam o silêncio matinal com uma mística. Com os punhos em riste, homens, mulheres e crianças humildes, camponeses, cantaram o hino do MST.

Na coordenação da marcha, Wanderly Scarabely tomou um café preto antes de sair. Perguntado se ele acredita que o resto do país conhece essa luta, escondida nos interiores de Mato Grosso, e nem sempre bem retratada pelas televisões e jornais, ele responde: "É provável que muitos não saibam bem o que seja o MST na verdade, mas a marcha, por si só, nas regiões por onde ela passa, já se comunica com as sociedades, e as pessoas vão conhecendo o povo gerreiro do MST". A marcha não fechou as estradas por onde passou, ocupando apenas meia pista, em duas fileiras humanas.

Na sexta-feira (13), com um ato público, o MST encerra formalmente a marcha, que integra a jornada nacional de luta dos movimentos sociais.

Angélica Werneck, de Cuiabá (MT)





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