UFMT: o poder a qualquer custo
Em praticamente todos os lugares que visito, no exercício de minhas atividades profissionais, por determinação superior ou de ofício, no comércio e nas atividades sociais, a pergunta que ainda não se calou é a seguinte: “O que aconteceu, professor? O senhor estava muito bem, apresentando propostas sintonizadas com as expectativas da sociedade... Eu torcia para o senhor. Perguntei para muitos da UFMT em quem iriam votar e me disseram que iam votar no senhor. O que, de fato, aconteceu?”
Quando decidi me candidatar ao cargo de reitor da UFMT, tinha convicção de que seria uma disputa de alto nível, que pudesse colaborar, independentemente do resultado, para o engrandecimento da Universidade.
Imaginei que, com minha experiência e a dos meus adversários, poderíamos debater as expectativas da sociedade e apontar soluções exeqüíveis para serem adotadas na instituição. Imaginei que iríamos travar um debate digno de cidadãos que pleiteiam ocupar um cargo referencial e nobre: o de reitor da UFMT.
Infelizmente, eu estava enganado. Talvez por me julgarem um forte candidato, pois, vínhamos construindo, de forma serena e democrática, uma proposta que daria transparência às ações da instituição. E colocava, como objetivo principal, a busca pela satisfação das pessoas que compõem o quadro de docentes e de técnico-administrativos ativos e aposentados, dos alunos de graduação e de pós-graduacão e daqueles que prestam ou buscam os serviços prestados pela UFMT.
Pautamos nossa campanha em documentos e pronunciamentos propositivos. Em nenhum momento, me ocupei em denegrir a imagem dos demais postulantes ao cargo ou em descaracterizar as gestões que passaram ou estão passando pela instituição.
Respeitamos integralmente a Normativa 01/2008, elaborada pela Comissão Eleitoral, composta por representantes das entidades responsáveis pela realização da consulta (Sintuf, Adufmat e DCE), mesmo não concordando com alguns dos seus artigos.
Contrariamente, o grupo da situação desrespeitou os artigos da Normativa 01/08 que julgaram não serem convenientes para eles. Por outro lado, exigiram, de forma truculenta, a aplicação da interpretação de outros artigos que deram conforme suas conveniências, para atingir o objetivo, que era ganhar a qualquer custo.
Pressionaram a Comissão Eleitoral, descaracterizando sua legitimidade, o que provocou a desistência e substituição de diversos membros por outros de confiança da candidata da situação. Mesmo assim, quando as deliberações da Comissão não atenderam ao interesse da situação, provocaram a convocação de assembléias extemporâneas nas entidades, com plenária composta por pessoas com posição preconcebidas e direcionadas para aprovar o que interessava à candidatura situacionista, verdadeira torcida organizada.
Acreditei que o bom senso acabaria por prevalecer, porém, não foi isso que aconteceu, ultrapassaram as raias do suportável e expuseram a UFMT ao ridículo.
Usaram de expedientes condenáveis. A seguir, relaciono alguns:
1 - Tentaram nos vincular a siglas partidárias e a políticos que eles julgam descomprometidos e desonestos, com o propósito de diminuir e desqualificar nosso nome;
2 - Encobriram a falta de organização da gestão que representavam, a qual enviou para Comissão Eleitoral listagens desatualizadas dos nomes das pessoas com direito a voto, divulgando, de forma ostensiva, que nós estávamos proibindo a votação dos residentes de Medicina, alunos das especializações e do ensino à distância;
3 - Qualquer posicionamento divergente do grupo dominante era tachado de antidemocrático. As decisões eram sempre direcionadas a favor das propostas apresentadas pelo grupo dominante. Nas oportunidades em que isso não aconteceu, provocaram outras assembléias para reformar a deliberação. Uma demonstração clara de autoritarismo;
4 - A chapa da situação - aliás, que situação confortável -, ela sim, contou com a experiência e a militância explícita de partido político, deputado(a), vereador(a), secretário(a) de Estado, que utilizaram os microfones e tribunas dentro e fora da UFMT, onde quer que estivessem, sem o menor pudor;
5 - Analisando as notícias e artigos publicados na imprensa e principalmente os pronunciamentos e documentos de campanha, verificam-se contradições e posicionamentos dúbios, que evidenciam oportunismo em cada momento, deixando claro que o objetivo era a busca pela permanência no poder a qualquer custo;
Ficou demonstrado que não foi uma disputa onde o resultado pudesse espelhar o desempenho dos postulantes ao cargo, seguindo uma Normativa conhecida previamente e respeitada por todos. Infelizmente, a “vitória”, foi conseguida com manobras e armações, ou seja, manteve-se o poder a qualquer custo, mesmo que para isso tenha sido preciso expor e denegrir a imagem da instituição.
Essa sucessão de erros, abusos e falta de organização que caracterizou essa consulta, aliado às falhas da Comissão Eleitoral, que sequer deu provimento aos recursos que apresentamos para corrigir erros relacionados à condução do processo, votação e apuração, nos levou a instruir um processo com provas documentais, que foi encaminhado ao Ouvidor da UFMT.
Após análise dos autos, o Ouvidor concluiu que ocorreram falhas graves que interferiram no resultado final da consulta, as quais não foram esclarecidas. E concluiu: “Não ocorrendo tais providências, pela Adufmat e Comissão de Consulta, restará dúvida ou suspeição ao processo, difícil de ser esquecida e que poderá trazer constrangimentos à futura direção maior da UFMT”.
Diante desse posicionamento, o referido processo foi encaminhado ao atual reitor e ao Colégio Eleitoral Especial para ciência e considerações.
Esperamos a devida atenção e que sejam dados os encaminhamentos que o caso requer, em respeito à sociedade e à instituição UFMT.
* JOÃO PEDRO VALENTE é professor da Universidade Federal de Mato Grosso.
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