Estudo diz que o português é menos influente do que falado
A influência da língua portuguesa no mundo não corresponde ao seu número de falantes, conclui um estudo encomendado pelo governo português. A pesquisa constatou também a dispersão da política da língua e o fraco empenho dos sucessivos governos portugueses na sua promoção.
O estudo foi encomendado pelos ministérios da Educação e das Relações Exteriores ao reitor da Universidade Aberta de Portugal, Carlos Reis.
Em declarações à Agência Lusa, Carlos Reis afirmou que as conclusões finais só serão alcançadas no final de maio, mas disse que já foi possível tirar conclusões preliminares. "Existe uma grande disparidade entre o universo falante de português e a efetiva influência internacional da língua portuguesa", afirmou o professor, destacando que "somos mais de 200 milhões de falantes".
Carlos Reis adiantou que o estudo foi iniciado em fevereiro e teve como base documentos sobre o ensino da língua no exterior recolhidos com o Parlamento português, com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e com a Fundação Calouste Gulbenkian.
Além do Instituto Camões e do Conselho das Comunidades Portuguesas, o reitor da Universidade Aberta contatou também alguns coordenadores do ensino de português no exterior --Suíça, Reino Unido, Espanha e África do Sul.
Promoção do idioma
Sobre a promoção da língua portuguesa, Carlos Reis sublinhou que "se fazem muitas coisas bem", mas "muitas vezes de uma maneira dispersa". "Tem de haver uma racional articulação dos esforços", disse o reitor, defendendo que, "com o mesmo dinheiro", poderia se fazer um ensino muito melhor.
Carlos Reis concluiu ainda que, "até agora, não houve um efetivo envolvimento [dos governos portugueses] nesta matéria". "Ainda não houve uma efetiva vontade política de manter uma política de língua séria e credível", afirmou.
"Aparentemente, há agora essa vontade política de ir além da retórica", acrescentou o professor, que sublinha que, "coincidência ou não", essa vontade surge "no momento em que também o Brasil aposta muito na política de língua".
"É uma causa comum e só temos vantagens em entender que é preciso fazer uma aliança estratégica com países de língua portuguesa", defendeu.
Difusão em outros países
No início do mês, o ministro português das Relações Exteriores, Luís Amado, anunciou que o primeiro-ministro, José Sócrates, apresentaria até o final de maio uma nova estratégia para a promoção da língua e da cultura portuguesa em outros países.
De acordo com o ministro, o anúncio vai "antecipar a cúpula da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], prevista para julho, em Lisboa", cujo tema "é precisamente a língua portuguesa".
Segundo Luís Amado, a nova estratégia de Portugal já tem financiamento garantido pelo orçamento do país e "já está sendo trabalhada" pelos ministérios das Relações Exteriores, da Cultura e da Educação.
Em linhas gerais, ela vai contemplar "vários aspectos da política do governo a desenvolver nos próximos anos", como "a ratificação do acordo ortográfico, um reforço do ensino da língua portuguesa a estrangeiros e às comunidades portuguesas e uma expansão desse ensino através, por exemplo, dos programas de ajuda ao desenvolvimento".
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