Sorriso de Isabella assombra o Brasil, diz 'Le Monde'
O sorriso de Isabella assombra o Brasil, diz uma crônica publicada na tarde de quarta-feira no site do jornal francês Le Monde.
O texto, assinado pelo jornalista Jean-Pierre Langellier, diz que há várias semanas o Brasil parece “assombrado pelo sorriso de Isabella, assim como ficou a Inglaterra há um ano pelo sorriso da pequena Madeleine McCann, que desapareceu em Portugal e até hoje não foi localizada”.
“O anúncio do infanticídio provocou uma verdadeira comoção social em um país que bate os recordes de violência com 50 mil homicídios por ano”, diz o diário francês.
A crônica busca explicar as razões pelas quais a história suscita tanta emoção do público e afirma que a principal delas está no fato de seus protagonistas “pertencerem a uma família de classe média, com a qual inúmeros brasileiros podem facilmente se identificar”.
“(O interesse do público) É também em parte pelo fato do casal, que nega envolvimento na morte da menina, ter conseguido ficar solto durante várias semanas até ser preso no dia 8 de maio e ter concordado em dar uma longa entrevista a um programa de televisão de grande audiência”.
Fermento
E é na mídia, afirma a crônica, que reside “o fermento para excitação popular”.
“Os meios de comunicação alimentaram um clima de frenesi em torno do assunto. Para sua cobertura, a Rede Globo, maior do país, mobilizou em permanência 15 equipes de repórteres e cinegrafistas, três veículos de transmissão ao vivo e um helicóptero.”
“O próprio presidente Lula ficou um pouco preocupado com tamanha atenção da mídia, a seus olhos, excessivos. Ao pedir prudência, Lula pediu que o casal não seja declarado culpado antes de ser julgado”.
Jean-Pierre Langellier cita dados do ministério da Saúde, segundo os quais a cada dez horas uma criança com menos de 14 anos é assassinada no Brasil. Parte dessas mortes acontece dentro do contexto familiar, dizem as estatísticas.
“O caso Isabella dá aos brasileiros a ocasião de refletir sobre as causas dessa violência e aos meios de reduzi-la.”
Especialistas ouvidos por Langellier afirmaram que além de seus principais motivos, como pobreza e dilaceramento familiar, “a violência dentro das casas faz parte da cultura brasileira”.
“O castigo corporal continua, para muitos pais, um método pedagógico eficaz e legítimo. A duração da escravidão no Brasil – de mais de três séculos – e o caráter tardio de sua abolição (1888) desempenham também um papel na permanência dessa prática."
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