Brasil faz 'cruzada geopolítica' por etanol, diz jornal
Uma reportagem publicada nesta terça-feira no diário econômico francês Les Echos afirma que o Brasil está em uma "cruzada", tanto de dimensões "financeiras" como "geopolíticas", pelo etanol.
Em dois longos artigos, o correspondente do jornal relata os argumentos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor dos biocombustíveis, que nas palavras do repórter "hoje se encontram no centro de uma polêmica mundial por conta da alta dos preços das matérias-primas agrícolas".
"Na defensiva, o Brasil garante que pode lutar simultaneamente na frente da segurança alimentar e da energia", ele escreve. "A questão é financeira – o país espera a criação de um grande mercado internacional de etanol – mas também geopolítica."
Citando a Unica, a associação dos usineiros, o jornal afirma que o Brasil estima poder alcançar neste ano uma produção recorde de 24 bilhões de litros de etanol. As estimativas falam de investimentos de US$ 17 bilhões até 2012.
Além disso, os produtores desejam exportar mais para os Estados Unidos e os países da União Européia, que estabeleceu a meta de que até 2020 a gasolina vendida no bloco contenha 10% de biocombustível.
A reportagem lembra que, em seu interesse, o governo Lula já percebeu a necessidade de esclarecer as diferenças entre o etanol brasileiro, de cana-de-açúcar, que não influenciaria no preço dos alimentos, e o dos Estados Unidos, feito de milho, um grão que forma a base da alimentação de diversos povos.
Além disso, o país quer convencer a comunidade internacional de que a produção de biocombustíveis não gera desmatamento nem incentiva a substituição de colheitas de alimentos.
Mais que o viés financeiro, o tema alcança "grandes proporções geopolíticas", na avaliação do Les Echos. "O Brasil vê nesse 'petróleo verde' a oportunidade de reforçar sua posição na cena geopolítica internacional. 'Até quando vamos aceitar o papel de secundários na cena internacional?', questionou o presidente Lula a seus colegas latino-americanos em uma conferência regional da FAO (o braço da ONU para a alimentação)."
Ao jornal, o presidente da Unica, Marcos Jank, disse que a batalha pelo etanol também se insere "diretamente" na campanha pela liberalização do comércio agrícola mundial.
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