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Saúde
Segunda - 28 de Abril de 2008 às 14:46

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A doença de Chagas avançou no último ano na região amazônica, área antes considerada livre do problema, e na forma oral, ou seja, relacionada ao consumo de alimentos contaminados, como açaí e cana-de-açúcar - e não à transmissão por picada de inseto. Mais de cem casos agudos da doença, que pode afetar o coração e matar, foram registrados, a maioria no Pará, pelo consumo de açaí. Os produtos pasteurizados (industrializados) não oferecem risco.

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que acompanha surtos e emergências, aponta os casos de doença de Chagas aguda como um dos mais comuns no País nos últimos dois anos. Há suspeitas também no Piauí e na Bahia.

Desde 2006, a forma de transmissão oral passou a ser considerada relevante pelos órgãos de saúde. Até então, a preocupação era apenas com a transmissão vetorial, pela picada do inseto conhecido como barbeiro (triatoma) contaminado pelo protozoário causador da doença, que costuma infestar as casas das vítimas. Na transmissão oral, o inseto contaminado ou suas fezes são triturados ou processados em alimentos consumidos crus.

"A estratégia agora é diferente, o barbeiro não é domiciliado, a região não é de mata e existe uma quantidade de outros tipos de triatomas envolvidos. Ainda não sabemos qual é o fator que pode explicar isso, se é o alimento ou o vetor. Existe um ponto de interrogação. É uma doença que nunca tivemos, que mudou seu padrão epidemiológico", afirma a Coordenadora da Vigilância de Doenças Transmitidas por Vetores do Ministério da Saúde, Rosely Cerqueira.

Ela lembra que, por coincidência, em 2006 o País havia recebido certificado por ter eliminado a transmissão por um tipo de barbeiro. Um ano antes, em 2005, porém, houve o primeiro surto de transmissão oral, que ganhou grande destaque no País, após o consumo de caldo-de-cana contaminado em Santa Catarina. O Estado não voltou a registrar casos depois.

DESMATAMENTO

O ministério e a Secretaria Estadual de Saúde do Pará apontam problemas na manipulação de alimentos em geral e o desmatamento como possíveis causas do avanço da doença. Nos 86 municípios listados no Pará como prioritários para o combate à doença (60% das cidades do Estado), há incentivos à produção do açaí, além de alterações das condições ambientais , favorecendo a invasão de casas pelo barbeiro ou ataques ao ar livre e contaminação da comida.

No último ano, o Pará registrou 87 casos agudos - só os agudos são de notificação compulsória -, contra 83 em 2006 e 10 no ano anterior. A maior parte foi relacionada à contaminação do açaí. Neste ano, já houve dez casos registrados. A taxa de mortalidade varia de 4% a 7%, o que o próprio governo paraense relaciona à demora no diagnóstico. Pacientes chegam a esperar mais de um mês pelo resultado de exames, apesar do risco de a doença não tratada rapidamente tornar-se crônica.

CHAGAS E MALÁRIA

No Pará, a preocupação com a doença de Chagas levou o governo a capacitar a rede de laboratórios que pesquisam malária - doença endêmica na região amazônica - para que também façam o diagnóstico de Chagas. A meta é que, até junho, todos os microscopistas das 86 cidades com risco para Chagas estejam aptas a fazer os exames.

Segundo Elenild Góes, coordenadora do Programa de Controle da Doença de Chagas do Pará, já havia relatos da transmissão oral no Estado desde os anos 60, mas o problema não era registrado pelos serviços de saúde. "Começamos a registrar algo que vinha acontecendo."

O plano estadual de combate à doença, publicado em janeiro deste ano pelo governo, levou recentemente uma expedição de 45 pesquisadores de universidades, do ministério e das secretarias estadual e municipal a duas ilhas de Abaetetuba, locais de produção de açaí, para investigar áreas de risco. Foram colocadas armadilhas para barbeiros, colhidas amostras da vegetação e realizados exames de sangue em mais de 50% da população de 2.300 moradores. Além disso, o Estado fez palestras sobre a manipulação correta de alimentos. No entanto, ainda não há resultados publicados.

A secretaria estadual e o Ministério Público já fizeram acordo com a agroindústria para que seja feita a pasteurização de todos os produtos do açaí, o que elimina o risco da doença, mas o problema, diz Elenild, são os pequenos produtores, para os quais o processo é inviável por causa de seu alto custo.

"Sentia dores no fígado, falta de apetite, um desânimo total", conta a dona de casa Maria Francisca de Souza, que faz tratamento rigoroso para se curar da doença de Chagas. Ela costumava tomar o açaí comprado no ponto de uma vizinha, no bairro da Pedreira, em Belém.





Fonte: Idec

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