Um novo rumo para a UFMT
Ao longo dos últimos dias que antecedem a escolha do futuro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), tenho submetido à apreciação da comunidade acadêmica e da sociedade em geral uma proposta de gestão assentada em quatro eixos estratégicos: Plano Diretor de Gestão, Política Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão, Política Institucional e Política de Infra-Estrutura. Essa proposta é a base de um projeto administrativo que pretendo implementar no comando central da instituição.
Nesta última década, lamentavelmente, a nossa UFMT deixou de desempenhar o papel para o qual foi criada: ser um centro de vanguarda no fomento de idéias e ações para o desenvolvimento de Mato Grosso. É bem verdade que ela teve, durante certo período, participação fundamental no processo de desenvolvimento sustentável da Região Centro-Oeste, mas, infelizmente, se perdeu diante da dinâmica do crescimento do Estado.
Hoje, a sociedade mato-grossense vive num estado de total desencanto com a UFMT. Ela espera mais da instituição, que perdeu o foco de sintonia e interação com o processo de desenvolvimento do Estado. A conclusão imperativa, diante dessa triste realidade, é que a nossa Universidade está sem rumo e não tem conseguido acompanhar a velocidade das mudanças em Mato Grosso. Não se modernizou e não se preparou para acompanhar esse processo. A verdade é incontestável: a UFMT deixou de ser vanguarda.
Como candidato a reitor e com o respaldo de uma longa experiência na vida acadêmica, defendo o fortalecimento institucional da UFMT e a reconstrução de canais de interação com a sociedade, no sentido de reverter esse estado de coisas. Na verdade, precisamos recuperar a capacidade de surpreender; de participar dos debates importantes ao Estado. Para isso, pretendemos executar um plano de ações contundente, que transforme a Universidade em excelência e referência nas mais diversas áreas do conhecimento.
É oportuno assinalar que a UFMT realiza trabalhos importantes na área de pesquisa, mas não dá a necessária visibilidade para essas ações, como as dissertações de mestrado e as teses que deveriam ser divulgadas em veículos de comunicação e debatidas com a comunidade. Precisamos de mais ações culturais e de ensino, que integrem a formação profissional com o processo de desenvolvimento do Estado e a geração de pesquisas. A prática acadêmica adotada há anos precisa mudar urgentemente.
Hoje, quem chega no campus, se depara com um cenário intrigante: muitos prédios, cujas obras são de qualidade questionáveis. Vivemos a fase do “topa tudo por obra”. Há mais preocupação em se fazer uma obra física do que em preenchê-la com conteúdo, equipamentos e condições de ensino. A UFMT virou uma universidade com muitos prédios cheios de nada.
A Universidade precisa, urgentemente, de um choque de gestão. Sou de opinião que reitor tem que estar sintonizado, não pode apenas centralizar ações, se fechar dentro da academia e trabalhar apenas retóricas. Temos que olhar para cenários, para o futuro. Nossos professores e servidores merecem mais atenção. Há a necessidade da preocupação constante com a saúde, com as condições de trabalho, com a implementação do plano de carreira e salários. É preciso investir pesado na qualidade do ensino, tanto de graduação como de pós-graduação e nas ações de pesquisa.
Será forçoso que, doravante, se busquem meios para atender às muitas demandas reprimidas da UFMT. Com efeito, o orçamento da instituição – estimado em R$ 280 milhões - é insuficiente para as mudanças necessárias. Pretendemos ampliar esses valores por meio de programas especiais, pesquisas e extensão, além de convênios. A UFMT precisa de mais recursos para ter plenas condições de funcionamento, tendo em vista que, desse montante, pelo menos R$ 200 milhões são gastos, anualmente, com a folha de pagamento, aposentadoria e direitos trabalhistas.
Defendo, também, investimentos em equipamentos, no mobiliário e na melhoria das condições de trabalho. Hoje, não há estrutura nenhuma nos campi. A grande maioria dos professores dá aulas com seus próprios equipamentos. O que falta na UFMT é simplesmente uma gestão que eleja prioridades.
Caso seja eleito reitor, uma das minhas primeiras ações será a execução de uma reforma administrativa acadêmica. Há muitos problemas de gestão. O comportamento de determinados chefes de setores é constantemente questionado. É preciso mudar. E isso passa por uma profunda discussão interna.
Vale ressaltar que todas as essas ações serão feitas após uma ampla discussão com a comunidade interna. Hoje, tem sido muito mais fácil se proibir determinadas ações do que dialogar e conscientizar. Reitor não é patrão, ele representa as unidades. A Universidade é um espaço onde convivem todas as ideologias, todas as tendências, todas as correntes. Na UFMT, existe excelência nas diversas áreas do conhecimento. Portanto, é preciso humildade para ouvir e, a partir daí, criar condições de trabalho.
Definitivamente, já não se pode mais aceitar a excessiva centralização administrativa e a falta de transparência nas ações da atual Reitoria. Esses pontos negativos impedem que a sociedade conheça o que se faz e o que pode ser feito. Além disso, a comunidade interna (professores, técnicos e alunos) se queixa, sobretudo, da falta de qualidade no ensino, do vestibular extremamente concorrido, da falta de aulas práticas de qualidade e dos laboratórios sucateados. A estrutura da UFMT não suporta a demanda por novos cursos e ações curriculares em quase todos os campi.
Ademais, professores e servidores técnico-administrativos são vítimas em potencial de um processo de marginalização, na medida em que a atual gestão se nega a discutir, por exemplo, temas ligados à reivindicação salarial. A administração superior tem que ser parceira da comunidade e estar na frente das lutas por melhorias das condições de trabalho.
Não sou candidato a reitor por acaso. Conheço a UFMT por dentro, fui aluno, técnico, professor e gestor (diretor das Faculdades de Agronomia e de Medicina Veterinária), além de assessor da Reitoria. Tudo isso, sem dúvida, me dá a legitimidade necessária para garantir que tenho compromisso e que irei transformar a UFMT numa universidade melhor para seus funcionários e para a sociedade mato-grossense.
Tenho o compromisso de transformar a UFMT numa instituição humanista, democrática e transparente.
* JOÃO VALENTE é professor e candidato a reitor da Universidade Federal de Mato Grosso pela Chapa 2.
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