Yahoo pode sair mais caro para a Microsoft
Caso a Microsoft obtenha sucesso em seu esforço por adquirir o Yahoo, terá ainda mais uma conta a pagar. Os acionistas da empresa adquirida certamente terão de ser, e serão, pagos, mas é altamente provável que a Microsoft precise criar um pacote de incentivos financeiros a fim de reter engenheiros e executivos talentosos e impedi-los de procurar outros empregos no Vale do Silício. O programa de retenção de funcionários poderia sair caro, a um custo potencial de bilhões de dólares, se tomarmos por base o que a Microsoft fez ao adquirir outra empresa de tecnologia, em 2007.
Um estudo da transação sugere até que ponto os funcionários são recursos vitais em empresas cujo trabalho essencial é gerar idéias, posteriormente transformadas em software e serviços. O custo oculto do "seguro contra fuga" de funcionários pode ser um dos motivos para que a Microsoft venha resistindo a elevar sua oferta, que no momento é de US$ 42 bilhões (equivalente a cerca de R$ 70 bilhões).
Em maio passado, a Microsoft adquiriu a Tellme Networks, uma empresa que desenvolve software de reconhecimento de voz usado em centrais de atendimento telefônico e em buscas na Internet via comandos de voz. A Microsoft pagou US$ 800 milhões pela Tellme, uma empresa de capital fechado sediada na Califórnia, mas investiu outros US$ 100 milhões em pacotes de retenção de funcionários, de acordo com duas fontes próximas à Microsoft. Esse dado não havia sido revelado anteriormente.
Bonificações em dinheiro, opções de ações e outros incentivos para estimular funcionários a permanecerem na empresa depois de uma tomada de controle são práticas comuns no Vale do Silício, dizem especialistas em capital para empreendimentos e analistas do setor. Esses planos de incentivo, acrescentam, podem se estender mais a fundo nas fileiras da engenharia, o que não se assemelha às práticas de outros setores, nos quais apenas os principais executivos recebem esse tipo de tratamento.
Para a Tellme, que tinha 330 funcionários, o dinheiro envolvido equivale a mais de US$ 300 mil por pessoa (cerca de R$ 500 mil). O Yahoo é uma empresa muito maior, com mais de 14 mil funcionários em todo o mundo. Caso a Microsoft adquira o Yahoo, qualquer programa de retenção de funcionários seria mais direcionado e menos amplo do que no caso da Tellme, dizem analistas. Mas mesmo um programa proporcionalmente muito menor poderia acrescentar mais uma despesa considerável à transação, talvez mais US$ 2 bilhões, estimam os analistas.
"Seria uma despesa adicional significativa, pagável em prazo de alguns anos", disse David Yoffie, professor da Escola de Administração de Empresas da Universidade Harvard. "E a Microsoft sabia disso ao apresentar sua proposta ao Yahoo".
Ao adquirir empresas no Vale do Silício, a Microsoft, em especial, pode ter de oferecer incentivos atraentes para reter funcionários. A reputação da empresa continua maculada por seu uso de táticas de pressão contra companhias como Netscape e Sun Microsystems, nos anos 90, o que a envolveram em um longo processo antitruste movido pelo governo federal do qual a companhia saiu derrotada.
A reputação provavelmente não procede mais, aponta Mark Anderson, presidente-executivo do Strategic News Service, um boletim de notícias tecnológicas. "Mas, no Vale do Silício, a primeira impressão das pessoas sobre a Microsoft ainda teria de ser superada", ele afirma. "Por isso, creio que ela precise gastar mais em seus pacotes de retenção de funcionários. Poderíamos definir o excedente como o ágio Microsoft".
Michael McCue, que era vice-presidente da Netscaoe nos anos 90 e se tornou presidente-executivo da Tellme ao fundar a empresa, diz que a Microsoft mudou. Ele se recusou a discutir o pacote de retenção de funcionários oferecido à sua empresa, mas diz que foi amplo e efetivo, com 95% dos funcionários optando por continuar na empresa depois da aquisição. "A experiência vem sendo excelente", disse.
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