Brasil: força e ameaças
Os números foram extraídos da última edição da revista The Economist. Estes três indicadores são interessantes, se analisados conjuntamente, porque um país pode estar crescendo bastante, porém à custa de déficit na balança comercial e/ou alta inflação. Um país também pode estar com a inflação sob controle, porém às custas de baixo crescimento econômico e/ou excesso de importação barata. Além disso, é possível que se tenha superávit em conta-corrente, com grande volume de exportação e baixo volume de importação (devido à desvalorização da moeda local), mas tendo como conseqüência uma inflação crescente.
O ideal, no entanto, é que um país apresente crescimento econômico robusto (PIB > 4%), inflação controlada (IPC < 5%) e resultado em Conta-Corrente equilibrado (CC/PIB > -0,5%). Os valores escolhidos como parâmetros foram convencionados livremente.
Nesse exercício, comparei a situação de 30 países: doze da Europa (Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Holanda, Suécia, Noruega, Finlândia, Irlanda, Rússia e República Tcheca), oito das Américas (Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia, Peru, Brasil, Argentina e Chile), sete da Ásia (Arábia Saudita, Turquia, Índia, China, Malásia, Japão e Coréia do Sul), dois da Oceania (Austrália e Nova Zelândia) e um da África (África do Sul).
De todos esses países, somente seis apresentam os três indicadores em níveis adequados: Holanda, Noruega, Coréia do Sul, Brasil, Peru e Malásia. Onze apresentam um dos indicadores insuficiente (China, Rússia, Índia, Argentina, Chile e Arábia Saudita, com crescimento do PIB e resultado em conta-corrente bons, porém com inflação elevada. Canadá, Alemanha, Suécia, Finlândia e Japão com inflação e resultado em conta-corrente bons, porém com baixo crescimento econômico. Irlanda, com inflação e crescimento econômico bons, mas com resultado em conta-corrente ruim).
Doze com apenas um indicador em bom nível (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, Espanha e México com inflação controlada, mas com baixo crescimento do PIB e resultado em conta-corrente bastante negativo. Colômbia, República Tcheca, Índia e África do Sul com alto crescimento econômico, mas com os dois outros indicadores insatisfatórios. A Turquia não apresenta nenhum dos indicadores satisfatórios).
Dos países “top de linha”, a Holanda e a Noruega se beneficiaram diretamente dos altos preços do petróleo e seus derivados; e o Peru dos altos preços dos minerais. Malásia se beneficia das exportações da indústria de transformação. O Brasil e a Coréia do Sul contam com uma pauta mais diversificada de exportação, apesar de o Brasil ter se beneficiado pelas altas dos alimentos e dos minerais.
Como vimos, apesar de toda a crise financeira internacional, o Brasil se encontra bastante fortalecido no momento atual. No futuro próximo, dois problemas podem aparecer: resultado em conta-corrente muito negativo e inflação em alta. O primeiro é mais provável que ocorra nos próximos meses. Apesar de contarmos com altos investimentos diretos estrangeiros e em carteira, que compensam a piora do resultado em conta-corrente, não podemos ficar na dependência de recursos externos para fecharmos as contas, sob pena de aumentarmos a nossa vulnerabilidade. Comparativamente, portanto, o Brasil está bem, mas é necessário ficarmos atentos para as conseqüências negativas da atual supervalorização do real.
* Alcides Domingues Leite Junior é professor de macroeconomia da Trevisan Escola de Negócios.
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