Dono de chalana admite culpa por acidente
O dono da chalana “Semi To-à-Toa”, que afundou no rio Cuiabá último dia 9, Semi Mohamed Said, disse que assumirá a responsabilidade de ter colocado um navegador sem habilitação para conduzir a embarcação, que transportava 22 pessoas. "Não houve irregularidades. O que aconteceu foi uma fatalidade", argumentou. O acidente resultou em 9 mortes.
Semi contou também que em função da mudança do tempo, o comandante José Gonçalo, preferiu que todos passassem a noite no rio. Somente pela manhã, quando o tempo já estava melhor, é que se seguiu viagem. "Se houvesse irresponsabilidade, Gonçalo poderia ter continuado a viagem, assim como sugeriram alguns turistas", comentou. O proprietário revelou ainda que Joaquim da Rosa Santos, que estava na chalana como piloteiro (piloto de barcos pequenos), possuía habilitação para navegar, porém, Semi não o colocou como comandante.
"Poderia mentir e ter colocado o nome dele como navegador, porém, prefiro assumir a culpa. Gonçalo pilotava melhor do que eu ou o Joaquim, que possuímos habilitação. Era ribeirinho e conhecia muito bem o rio e o local onde aconteceu o acidente". Semi Mohamed observa também que nunca existiu fiscalização na região. "A maioria das chalanas são navegadas por pessoas sem habilitação. Estou sendo crucificado para ver se agora corrigem as falhas que sempre existiram. Somente após o acidente é que vem sendo feito fiscalização e se tem discutido sobre o assunto. O fato está repercutindo até em Corumbá (MS). Pelo que soube, uma chalana foi proibida de navegar por não ter ninguém habilitado", explicou.
O empresário revela que gastou cerca de R$ 500 mil para adequar a chalana que ficou pronta no final de 2007, após quatro anos de reforma. A embarcação era uma das mais procuradas pelos turistas na região. De acordo com informações de Semi, a embarcação já estava reservada até final de abril, além de já possuir reservar para 2009. "O grupo que viajou uma semana antes do acidente já havia reservado a chalana para o próximo ano", contou.
A embarcação contava com quatro quartos equipados com uma cama de casal e duas de solteiro, ar-condicionado, televisão, frigobar e banheiro. O refeitório possuía um espaço amplo e confortável, climatizado, som ambiente e televisão. Quatro barcos menores com três cadeiras, caixa térmica e viveiro para iscas, muito utilizado pelos turistas que queriam pescar. Os que preferiam ficar na embarcação, contavam ainda com churrasqueira, freezer, fogão, deck com cadeiras para banho de sol, televisão e dois banheiros no convés. A diária da chalana era de R$ 1,5 mil.
Atualmente, Semi, que trabalha como despachante, dependia da chalana para sobreviver, pois a renda de seu escritório em Cuiabá não é suficiente para pagar suas despesas. Ano passado, por problemas particulares, empenhorou a Pousada Semi Tô-à-Toa em Porto Cercado, município de Poconé, onde está morando atualmente "de favor". Semi está endividado e tem recorrido aos parentes para pedir ajuda, pois ainda não sabe o que irá fazer. "Estou em parafuso. Não tenho mais condições de pagar minhas dívidas, já cancelei meu cheque especial e não sei o que fazer", desabafou.
Tragédia
O acidente com a chalana que transportava 22 pessoas aconteceu na madrugada do dia 9 deste mês. Nove pessoas morreram e 13 foram resgatadas com vida. Esta semana, os sobreviventes prestaram depoimentos à Agência da Capitania dos Portos, em Cuiabá. O balizamento do local da tragédia já foi realizado com a sinalização das margens esquerda e direita do rio Cuiabá, mas o definitivo será realizado na próxima semana por uma equipe que virá da Capitania dos Portos do Pantanal, de Ladário (MS).
Semi disse que não há nada que justifique o acidente. Segundo explicou, a chalana não tombou, portanto, não houve uma manobra arriscada. "A chalana afundou em pé. A tragédia deve ter sido ocasionada por um redemoinho que atingiu a traseira da embarcação, fazendo com afundasse com tanta rapidez", relatou.
Os sobreviventes relataram que a chalana afundou em segundos. "Só conseguiu se salvar quem estava no convés, pois aqueles que se encontravam dentro da embarcação não tiveram tempo para sair. Pelo que informou o Corpo de Bombeiros, das 9 vítimas, 2 estavam no banheiro, a cozinheira no refeitório e os demais na cabine”, explicou.
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