Dalai Lama pede fim de violência e ameaça renunciar
"Até o primeiro-ministro me acusou de ter iniciado todas estas coisas", afirmou. "Na verdade, não. Se vier aqui e investigar nossos arquivos, todos os registros de meus discursos, o primeiro-ministro saberá o quanto foi distorcido por autoridades locais."
"Violência é contra a natureza humana", acrescentou. "Nós não deveríamos desenvolver sentimentos anti-chineses. Nós precisamos viver juntos lado a lado."
Durante a entrevista em Dharamsala, na Índia, onde vive exilado, o Dalai Lama sugeriu que os protestos contra a China saíram de controle e ameaçou deixar o posto de chefe do governo tibetano no exílio.
"Se as coisas estão fugindo ao controle, então a opção é renunciar totalmente (como líder político)", afirmou o líder tibetano. "Este movimento está além do nosso controle."
Domínio chinês
A atual onda de violência que tomou conta do Tibete começou no último dia 10, quando começaram os novos protestos de tibetanos contra o domínio chinês.
Segundo as autoridades chinesas, 13 pessoas foram mortas por manifestantes em Lhasa, a capital do Tibete.
No entanto, tibetanos que vivem no exílio dizem que 99 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança chinesas durante a repressão aos protestos.
Em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao fez os primeiros comentários desde o início da onda de violência.
Além de acusar o Dalai Lama de incitação à violência, Jiabao também afirmou que a alegação do líder espiritual tibetano de que autoridades chinesas cometeram um "genocídio cultural" no Tibete "não passa de mentira".
Protestos
Os protestos começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio chinês.
As manifestações tibetanas dos últimos dias já são consideradas os maiores e mais violentos protestos do tipo dos últimos 20 anos.
O Dalai Lama - que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua oposição ao uso de violência na busca pela autonomia do Tibete - já apelou várias vezes pelo diálogo com a China.
Na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar preocupado com a violência no Tibete e pediu que a China seja tolerante com os manifestantes.
Os protestos entraram em sua segunda semana e se espalharam para províncias próximas da região do Himalaia, como Gansu, Qinghai e Sichuan.
Em Lhasa, é grande o número de policiais nas ruas. Na segunda-feira, venceu um prazo do governo chinês para que os manifestantes se entregassem à polícia ou ficassem sujeitos a punições, mas ainda não há informações de uma ação dos militares.
De acordo com Daniel Griffiths, correspondente da BBC que está no oeste da China, longos comboios de veículos militares se dirigiram para o Tibete pelas montanhas. Há informações não confirmadas de que soldados estão isolando cidades na região.
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