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Domingo - 02 de Junho de 2013 às 07:11
Por: HELSON FRANÇA

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Nas reservas, o trabalho de prevenção se resume a realização de palestras, que não surtem efeito entre os habitantes loc
Nas reservas, o trabalho de prevenção se resume a realização de palestras, que não surtem efeito entre os habitantes loc
Em Mato Grosso, um dos estados com maior concentração de indígenas do país (aproximadamente 40 mil), a cultura de diversas etnias vem sendo ameaçadas devido ao envolvimento, cada vez mais frequente, de índios com drogas ilícitas – como a pasta-base de cocaína e o crack. 


 
Paralelamente, o poder público, tanto estadual quanto municipal, ainda não sabe como enfrentar a situação, não tendo, sequer, como identificar o problema. 


 
“O atual modelo de enfrentamento às drogas baseia-se em palestras realizadas nas comunidades indígenas, que não possuem eficácia: quando encerradas, eles já voltam a consumir as substâncias. É preciso mudar, urgentemente, a forma de como lidar com a situação”, alertou Hilda Maria Stümer Gonçalves, mestre em Ciências da Educação e que trabalha na Funai há 36 anos. 


 
Mesmo com relatos de índios das mais diferentes aldeias e etnias, que padecem devido ao vício em drogas ilícitas, não existe, atualmente, qualquer espécie de dados sobre o assunto. 


 
Este mês, no município de Barra do Garças, um xavante viciado em drogas quase morreu, depois de ser alvejado com seis tiros, por conta de uma dívida não saldada com traficantes da região. Indignados, os xavantes de sua aldeia promoveram um quebra-quebra em vários estabelecimentos e residências da cidade. 


 
“Para que o problema possa ser identificado é preciso ter equipes capacitadas atuando junto às comunidades indígenas de forma permanente. Isso ainda não existe”, explicou a responsável técnica pelo programa de Saúde Mental do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Cuiabá, Daniele Pinto. 


 
Ela explicou que está na coordenação de um programa que pretende capacitar, até o final do ano, cerca de 300 profissionais – entre médicos, dentistas e enfermeiros – para o devido atendimento e encaminhamento ao índio viciado. 


 
Não existe no Estado um lugar especializado para receber e tratar dos indígenas com problemas com o álcool ou drogas ilícitas. Em tese, eles são mandados para os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS AD), da mesma forma que os não-índios. 


 
“Em todo o Estado, se já está difícil para o ‘branco’ ser atendimento de maneira adequada, imagina para o índio”, relata Daniele, se queixando da estruturados CAPS. 


 
Ela ainda conta que, em alguns municípios, como Colíder, devido ao preconceito, hospitais públicos administrados por Organizações Sociais se negam a atender indígenas. 


 
Na avaliação de Hilda, uma alternativa para conter e lidar com o avanço das drogas nas aldeias – intensificado pelo contato cada vez mais frequente com os não-índios -, seria de promover cursos de capacitação e psicoterapia junto aos próprios indígenas. A proposta seria de formar multiplicadores. 


 
“Ninguém melhor do que eles mesmos para lidar com a situação. Existem muitas atividades dentro de cada etnia que deveriam ser mais exploradas. Pintura corporal, artesanato, a dança, devem ser alternativas para tentar tirar o foco do indivíduo das drogas. Seria uma maneira, inclusive, de se promover o resgate ás tradições, que vem sendo perdida”, defendeu Hilda. 


 
A ideia, segundo ela, já foi apresentada aos representantes da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), mas não foi levada adiante. 


 
Para o antropólogo Edson Benedetti, o problema das drogas junto às comunidades indígenas, para ser enfrentado de maneira eficiente deve, inicialmente, ser encarado de forma franca. 


 
“Da mesma forma que o branco, o índio também tem os seus problemas, seus dilemas, suas fraquezas. É preciso ouvi-los, dar voz a eles”, pontua. 





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