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Economia
Segunda - 10 de Março de 2008 às 12:55

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A indústria automobilística deve fechar ainda nesta semana a marca de 5 milhões de carros flex vendidos no País. A soma, além de refletir sucesso da tecnologia, trouxe ganhos verdadeiramente palpáveis ao inserir o Brasil no debate da segurança energética, ao ajudar as montadoras a obter recordes de vendas, a equilibrar o mercado doméstico de combustíveis e a contribuir para desenvolvimento sustentável.

As dúvidas sobre o uso da tecnologia vão se dissipando à medida que cresce a frota - atualmente 87,5% dos carros e comerciais leves vendidos no Brasil utilizam o sistema que permite o uso de gasolina ou álcool em qualquer proporção. Desde o lançamento do primeiro modelo flex - o Gol (VW), em 2003, nem mesmos os mais céticos têm dúvidas sobre a eficiência da tecnologia, que encontrou no Brasil as condições ideais para se proliferar.

Maior produtor mundial de etanol a partir da cana-de-açúcar, rede de postos de abastecimento capilarizada em todo o País desde a instituição do Proálcool, em 1975, e profissionais criativos e capacitados levaram o modelo brasileiro a ser invejado até por potências, como os Estados Unidos, que procuram desesperadamente alternativas para o uso do petróleo, que bateu na última sexta-feira US$ 106 o barril.

O flex ganha força justamente num momento de boom do mercado brasileiro, que só no ano passado cresceu 27% e dá mostra de muito vigor em 2008, com crescimento de vendas de 39% no bimestre. "O mercado impulsiona o flex e o flex impulsiona o mercado", avalia Carlos Louzada, diretor-superintendente da TBM Consulting. Se mantiver o ritmo de produção e vendas, o Brasil atingirá até o final do ano a marca de 7 milhões de veículos bicombustíveis, numa trajetória meteórica e impressionante.

"Quem disser que, há cinco anos, já previa o sucesso do flex, está mentindo", afirmou Pedro Manuchakian, vice-presidente de engenharia da General Motors LAAM (divisão que engloba as regiões da América Latina, África e Oriente Médio). "No Brasil, a gente sempre fica com o pé atrás até que as coisas acontecem de fato."

E de fato as coisas aconteceram, inclusive com a evolução dos motores. A própria GM desenvolveu o EconoFlex, que melhorou os índices de consumo ao desenvolver uma taxa de compressão mais alta, que funciona bem, tanto para álcool como para gasolina. Segundo Manuchakian, o desafio agora é melhorar os motores mais potentes, como o 2.0 e 2.4 litros, que costumam ter um desempenho pior, principalmente quando abastecidos a álcool.

Para Manuchakian, a evolução dos softwares poderá ajudar a melhorar a calibragem dos motores, inclusive para carros mais potentes. A GM conseguiu, com a ajuda da Bosch, tornar viável a S-10 flex, uma caminhonete que dobrou suas vendas ao dispor a seus consumidores o sistema do bicombustível.

Para Manuchakian, o motor flex fuel é tão bom quanto o propulsor abastecido só a gasolina ou só a álcool. "É lenda esta historinha que contam por aí que motor flex é um pato: não voa bem, não nada bem nem anda bem. Não tem nada disso. O motor flex é muito bom."

O consultor André Beer, ex-vice-presidente da GM, afirmou que melhorar o consumo é um desafio para o flex, cujo motor tem apenas uma câmara para fazer a queima de dois combustíveis. "Como não dá para ter duas num mesmo motor, os engenheiros vão melhorar o sistema, acredito, a partir de materiais mais leves e duráveis."

Humberto Gavinelli, gerente de vendas e engenharia da Bosch, afirmou que um sistema que permite a partida a frio, eliminando a famigerada bombinha a gasolina, será um dos avanços a chegar ao mercado em pouco tempo. "Os sistemistas estão empenhados e vêm realizando pequenas mudanças que ajudam a melhorar o flex."

O biodiesel será um próximo passo na evolução de combustíveis no Brasil, acredita André Beer. O consultor afirmou que a tecnologia - quando se ajustar o refino e a produção do combustível - vai surpreender novamente o mundo, assim como está ocorrendo com o sistema flex impulsionado pelo álcool. "Quando o Brasil ajustar a produção do biodiesel, a partir da soja, por exemplo, vai dar mais um salto e se tornar cada vez mais independente (em segurança energética).

Mesmo com todas as diferenças tributárias entre os Estados, o álcool tem o preço o mais favorável que a gasolina na maioria do País. O álcool só compensa, no sistema flex, se o preço estiver pelo menos 30% abaixo do preço da gasolina, já que tem o consumo maior que o combustível fóssil. Porém, por ter maior massa, desenvolve mais velocidade que a gasolina.

A parte mais sensível do homem é o bolso. "Tive durante sete anos carro a gasolina. Mudei para o flex. Sinto no bolso a diferença. Com os mesmos reais, agora encho o tanque. Com gasolina, o ponteiro nem mexia", compara dono de um dos 5 milhões de carros flex.





Fonte: Folha Online

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