Célula embrionária ainda é necessária, diz cientista
Cientistas brasileiros que têm obtido bons resultados em testes clínicos com células-tronco adultas afirmam que estão sendo citados indevidamente por opositores do uso de embriões em pesquisa. O argumento de que células adultas têm mais potencial terapêutico do que embrionárias é "falso", dizem Júlio César Voltarelli, da USP de Ribeirão Preto, e Rosalia Mendez-Otero, da UFRJ, líderes de projetos na área.
Ambos questionam o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, autor da ação que visa proibir a destruição de embriões para a extração de células. Em artigo na Folha, Fonteles afirmara que isso equivale a "matar a vida" "a pretexto de cura", já que ainda não há comprovação clínica do uso de células embrionárias em terapia. Mesmo com a proibição, diz, "fica amplíssimo horizonte de pesquisas científicas com as chamadas células-tronco adultas, que já apresentam resultados terapêuticos favoráveis".
"Esse é um argumento completamente falso", diz Mendez-Otero. "Os estudos clínicos feitos até o momento usaram células adultas porque nós ainda não conhecemos as embrionárias tão bem e porque não tínhamos permissão para usá-las [no Brasil] até poucos anos atrás. Não houve tempo de pesquisa suficiente para que elas pudessem chegar a um modelo de estudo clínico."
Mendez-Otero, que conduz testes preliminares do uso de células adultas para tratar pacientes de AVC (acidente vascular cerebral), diz que seu potencial é "limitado". Segundo a cientista, a técnica ajuda a reduzir a mortalidade de neurônios que conseguem sobreviver aos primeiros instantes do AVC, mas nunca poderão regenerar neurônios já mortos.
"Não temos dúvida nenhuma de que as células adultas não vão servir para tratar tudo o que tem de ser tratado", diz. "Elas não se diferenciam, por exemplo, em tipos celulares como neurônios ou cardiomiócitos [células de músculo cardíaco], mas as embrionárias sim."
Entusiastas
Voltarelli, que já conseguiu bons resultados com células adultas tratando diabetes e esclerose múltipla, concorda. "Nós que trabalhamos com célula adulta somos os maiores entusiastas da embrionária", diz. "Pacientes [de diabetes] que têm lesão de sistema nervoso, de vasos ou de retina precisam de terapia regenerativa, e a grande esperança para eles é com célula embrionária."
Um outro argumento contra o uso de células embrionárias diz respeito à técnica criada pelo cientista japonês Shinya Yamanaka, que "reprogramou" células adultas para "imitar" embrionárias. Cientistas da área, porém, dizem que é cedo para saber se elas são tão versáteis quanto as originais.
"Essas células reprogramadas são bem úteis para estudar doenças genéticas e têm potencial importante, mas não substituem pesquisas com células-tronco embrionárias", diz Mayana Zatz, geneticista da USP.
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