Pesquisa aponta que jovens querem conciliar trabalho e educação
A necessidade de aproximar a educação e a qualificação profissional, e a de conciliar o estudo com o trabalho, estão entre as principais preocupações dos jovens da América do Sul. A conclusão é de pesquisa feita em seis países da região pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e pelo Instituto de Estudos Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Pólis).
A pesquisa, realizada principalmente com jovens de organizações e movimentos sociais, foi feita por meio de entrevistas e grupos de discussão. No ano passado, foram ouvidas 960 pessoas na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.
De acordo com a antropóloga Regina Novaes, consultora do Ibase, o estudo aponta a necessidade de encontrar formas para os jovens poderem estudar sem deixar de trabalhar. “Por exemplo, no caso dos jovens rurais, a questão da sazonalidade, das demandas da agricultura, por que não ter currículos que se adeqüem a isso?”, questiona a consultora.
A socióloga Helena Abramo, que fez a supervisão técnica da pesquisa no Brasil, disse que para permitir essa conciliação são necessárias medidas no âmbito da educação e do trabalho. “Uma jornada de trabalho que permita conciliar com outra jornada, um trabalho que não seja tão estafante e uma educação que reconheça o jovem como trabalhador e que permita esse diálogo.”
Os trabalhadores do setor de telemarketing, com 72,5% de jovens entre 15 e 29 anos, são um exemplo da busca por essa dupla jornada. Por isso, o Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel) de São Paulo fez parte da pesquisa. Segundo Abramo, o setor foi escolhido por ser considerado um dos nichos de trabalho para os jovens.
O presidente do Sintratel, Marco Aurélio Coelho de Oliveira, informou que grande parte dos trabalhadores do setor está fazendo um curso superior, já que a profissão exige ensino médio completo. “O telemarketing acaba servindo como um trabalho para pagar a faculdade”, constatou. Mas, segundo ele, devido à competitividade do mercado de trabalho, muitos jovens já têm que trabalhar em dois empregos.
Para Regina Novaes, embora a educação esteja em diferentes patamares nos países em que as entrevistas foram feitas, todos os jovens ouvidos expressaram o desejo de ter uma educação mais ligada às mudanças que vêm ocorrendo no mundo. "Uma educação de qualidade, não apenas formal, uma escolaridade que garanta o diploma, mas que garanta também o aprendizado nos moldes do século 21, que responda às necessidades do mercado de trabalho”, explicou.
A pesquisa conclui também que a demanda dos jovens não é apenas por trabalho, mas, sobretudo por um “trabalho decente, melhor que o que têm conseguido encontrar”, destacou Abramo. Outras demandas comuns estão na área do transporte.
Segundo Novaes, "o que se percebe é que tanto as diferenças entre os jovens rurais e urbanos como a geografia das grandes cidades, que separa a periferia do centro, têm conseqüências para a educação, para o trabalho e para a cultura”, que aparece na pesquisa como uma demanda associada à educação de qualidade na cidade e no campo.
Regina Novaes destacou ainda a preocupação dos jovens com a segurança e com o meio ambiente: "Essa geração já reconhece a questão do desenvolvimento sustentável e tem medo de um futuro sem água, com a camada de ozônio prejudicada. É uma geração que, mais do que as outras, tem essas questões ambientais mais próximas em termos de segurança e de futuro.”
O relatório final da pesquisa será apresentado neste dia 18, durante a posse do novo Conselho Nacional de Juventude. Uma versão provisória já havia sido divulgada em dezembro, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no Uruguai.
A antropóloga acrescentou que o objetivo do estudo é influenciar as políticas públicas para a juventude nos seis países pesquisados. “Vamos continuar tentando dialogar com os gestores públicos, que já estão encarregados de projetos voltados para a juventude e precisam ouvir essas informações para qualificar melhor a sua ação.”
Comentários