Crédito faz jovens anteciparem compra da casa própria
Aos 29 anos, Pablo Miyazawa está realizando o sonho da maioria dos brasileiros: vai morar no seu próprio imóvel. Para a mudança, só falta terminar a reforma no apartamento de dois quartos que ele adquiriu na Vila Madalena, na região Oeste de São Paulo.
"Eu moro com minha mãe e irmã e planejava comprar um imóvel próprio há muitos anos. Estava só esperando o momento certo, a combinação dinheiro suficiente e lugar ideal", diz ele.
Segundo um levantamento da Caixa Econômica Federal, 36% dos mutuários hoje têm até 30 anos. Há dez anos, esse percentual era de apenas 20%.
"A grande hoje vantagem é o momento econômico, com juros estão mais baixos. O crédito está crescendo, e isso possibilita uma condição maior para comprar um imóvel", avalia Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
O financiamento foi essencial para que Pablo pudesse comprar seu imóvel. Juntando suas economias de dez anos e os recursos que tinha no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), fez um empréstimo na Caixa Econômica Federal para pagar o que faltou, em dez anos. Ele ainda tem 113 parcelas para pagar, mas não está preocupado. "Ficou levinho, consome um sexto do meu orçamento", diz.
Opção para sair de casa
Se antes o jovem saía da casa dos pais para dividir um imóvel alugado com amigos, hoje ir morar no próprio apartamento está bem mais comum. Foi o que fez o designer gráfico Taiam Ebert.
"Com 24 anos, decidi que queria sair de casa. As opções eram alugar, dividir, comprar", diz. Ele optou pela compra e, por isso, comprou um consórcio de imóveis. "Fiquei na casa dos meus pais mais dois anos enquanto investia. Quando apareceu um apartamento que eu gostei, raspei toda a minha conta, dei um lance, tirei o dinheiro e comprei".
Aos 27 anos, Taiam já é 'quase' dono do apartamento de 79 metros quadrados onde mora em São Paulo. Das 144 parcelas, falta só a metade. E os pagamentos, de pouco mais de R$ 400 mensais, comprometem apenas 5% do seu orçamento.
Para dar o lance no consórcio, ele teve que vender o carro, mas não se arrepende. "Foi um sacrifício que valeu a pena", diz ele, que já está comprando outro automóvel, financiado.
Não é para todo mundo
Para o jovem que está pensando comprar imóvel, os financistas avisam: não é para todo mundo. "Tem que estar estabilizado em termos de trabalho e de renda. Tem que estar ciente do que está comprometendo", avisa Oliveira, da Anefac.
Para o professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis Atuariais e Contábeis (Fipecafi), Luiz Paulo Fávero, o importante é não comprar por impulso. "O que a gente percebe que há ânsia muito grande por parte dos jovens para adquirir um imóvel, porque significa mais que teto, significa independência. Mas (o jovem) precisa ter cuidado para não se endividar muito cedo", adverte.
Segundo Fávero, saber se está em condições de comprar a casa própria não tem segredo: "Tem que fazer a regra do caderninho. Colocar na ponta do lápis todos os custos, todas as suas receitas ao longo dos anos", diz.
Hoje, já há no mercado planos que financiam até 100% do valor do imóvel. Mas a facilidade pode induzir ao erro: é preciso cuidado para não assumir uma dívida maior que a capacidade de pagamento. Os especialistas recomendam que as parcelas não superem 25% da renda mensal.
O especialista da Fipecafi recomenda economizar pelo menos o equivalente a entre 30% e 40% do valor do imóvel para dar de entrada. "É uma situação complicada. A pessoa já não tem dinheiro e ainda vai fazer uma dívida. Mais pra frente, pode não conseguir pagar", diz.
O risco é não fazer as contas e acreditar que as parcelas vão caber no bolso até o final. Não basta olhar para o valor da parcela inicial: "Tem gente que pensa que o financiamento é o mesmo valor do aluguel. Mas a garantia de que vai ser igual no ano que vem é praticamente zero. O aluguel tem reajuste pela inflação, já o de um financiamento é bem maior", alerta Fávero.
Riscos
Se houver planejamento, os especialistas concordam: a juventude é uma boa época para comprar um imóvel. "O risco de não conseguir dar seguimento aos pagamentos é muito menor quando se tem 30 do que quando se tem 50", diz Oliveira. "É mais difícil ficar desempregado nessa idade", completa.
Para quem busca independência, o velho aluguel pode ser a melhor opção. Isso porque é muito mais fácil se desfazer de um aluguel do que de um imóvel financiado. "Quando se é jovem, existe uma possibilidade muito grande de a vida mudar. A pessoa compra um apartamento de um quarto e depois não consegue vender, fica empatando o capital", diz Fávero.
Por isso, a recomendação é atenção às contas. Pode valer a pena alugar um apartamento menor e ir guardando dinheiro para dar uma entrada maior em cinco anos. "A riqueza não é quanto você ganha, é quanto você gasta", decreta o professor da Fipecafi.
Vai ficar melhor
Muito embora as condições de crédito estejam melhores do que nunca, quem puder, deve esperar. A expectativa dos especialistas é de que as taxas de juros, ainda hoje entre as maiores do mundo, que continuem em queda. "A competição vai levar os bancos a reduzir essas taxas ainda mais", diz Oliveira.
Mas se você fez todas as contas, se programou e pesquisou as melhores taxas de juros, vá em frente: "Desde que não signifique entrar em roubada, fazer um financiamento é uma boa idéia", resume Oliveira. O designer Taiam concorda: "Vale muito a pena".
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